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14.30 - Assembleia (simulação)
20.00 - Jantar-Conferência com o Dr Vasco Graça Moura
01-09-2007
Jantar-Conferência com o Dr Vasco Graça Moura
 
Joana Aranha
 “Esperança, coesão, castelo, memória, incandescência, liberdade, compromisso, cultura, interessante, sensatez, conhecimento, contraponto, saudade, ouvir, harmonia, metamorfoses”.

Boa noite a todos. O poeta das palavras que, hoje, janta connosco tem a arte de juntar as palavras em poemas harmoniosos. Nós, tivemos a liberdade de ir aos seus poemas, juntar as palavras que mais nos fazem sentido personalizando, assim, o verdadeiro de partilha das emoções e esforços que, nesta semana, vivemos com razão e muita, muita paixão. Ao nosso Reitor, à organização, ao Hotel Serra e Sol, aos “uníves” dos cinco anos que passaram e, sobretudo, ao nosso poeta das palavras, vamos todos erguer os nossos copos e dizer que, hoje, é o último dia mas que foi tão, tão bom.

 

(Brinde e Aplausos)

 
Dep. Carlos Coelho
Sr. Presidente da JSD, Senhores Avaliadores e Senhores Conselheiros. Minhas Senhoras e meus Senhores. Este é o jantar mais complicado, para mim. Eu sou um fã do Dr. Vasco Graça Moura. Sou um fã dele enquanto homem de cultura, enquanto poeta, enquanto escritor, mas também enquanto cidadão empenhado que intervém com a pena ferina. Nós dizemos em Bruxelas, que ele é o “pena assassina”. Quando ele toma de ponta alguém, uma realidade, uma causa e põe o génio dele ao serviço dessa causa, não há caterpillar pior – vai tudo à frente. É, verdadeiramente, o “pena assassina”. Mas é um “pena assassina” com elegância, com erudição, com elevação mas também com paixão. E sou um admirador dele enquanto colega; é um colega fabuloso que ajuda a prestigiar Portugal no Parlamento Europeu.

O Dr. Vasco Graça Moura é uma pessoa com um trajecto cultural como poucos. Creio mesmo que é, talvez, o autor contemporâneo vivo mais premiado em Portugal e no estrangeiro. E é alguém que dá de Portugal, a melhor das imagens quando nos representa lá fora. É, para mim, um privilégio e uma honra poder dizer que sou colega dele no mesmo Órgão, no Parlamento Europeu. O Dr. Graça Moura foi Membro do Governo, foi companheiro nosso, foi fundador do Partido, decidiu, por razões históricas, há muitos anos, depois reaproximou-se, mantém o seu estatuto de cidadão independente, mas é um guerreiro das causas comuns que nunca hesita em dizer presente, e terçar armas com grande espírito de solidariedade.

É um homem que tem como hobbie, o xadrez; como comida preferida, o peixe grelhado e nós que lhe servimos carne, hoje, ao jantar (Risos); como animal preferido, o cão; o livro que nos sugere é a “Lírica” de Camões; o filme que nos sugere é o “Citizen Kane”; e a principal qualidade que mais aprecia é a lealdade.

O Dr. Vasco Graça Moura conhece esta Universidade, esteve cá há dois anos numa Conferência-jantar que deixou muitas saudades na Universidade de 2005. E, portanto, não tenho que lhe explicar como é que isto funciona. Ele já está habituado às regras da casa. E, portanto, cabe-me apenas fazer-lhe a primeira pergunta, dizendo-lhe, porém, que esta selecção notável de jovens que tem à sua frente, a selecção de 2007, foi convidada a fazer um exercício diferente relativamente aos anos anteriores. Uma das missões que demos aos trabalhos de Grupo foi eleger quem foi o melhor português de sempre. Cada um fez um trabalho de investigação histórica, apurada; fizeram textos escritos que vão ser amanhã distribuídos; e fizeram uma apresentação, alguns socorrendo-se das novas tecnologias, outros nem tanto, justificando a sua escolha. Eu, na altura, disse-vos que essa conversa não terminava naquela Assembleia porque vai terminar neste jantar. Porque a pergunta que eu quero fazer ao Dr. Graça Moura é a mesma que vos fiz no trabalho de Grupo.

Meu caro Vasco, qual é, para si, o maior português de sempre?

Minhas Senhoras e meus Senhores, connosco o Dr. Vasco Graça Moura.

 

(APLAUSOS)

 
Dr.Vasco Graça Moura
Muito obrigado, meu caro Carlos Coelho, Magnífico Reitor desta Universidade de Verão, meu caro Presidente da JSD, meus caros amigos. Eu devo dizer que, com toda a amizade que tenho pelo Carlos Coelho, e caracterizando-me por uma certa franqueza e desassombro em dizer aquilo que penso, começo por registar que ele é firme no verbo, mas é menos firme nos seus propósitos. Porque tinha-me pedido para vir aqui ler “Os Lusíadas”, eu trouxe esta edição, pensando que começava na primeira estrofe do Canto Primeiro e, depois, aí lá para a seis da manhã, estaria a chegar à última estrofe do Canto X. (Risos)

Com isto, quis apenas aplicar aquilo que vocês, há bocado, ouviram no Encerramento da Assembleia, de que deve haver uma nota de humor naquilo que se diz. Dispõe bem o Auditório, leva a que os que pensam que vai ser uma maçada, pensem que, afinal, talvez não seja assim tão maçador, aquilo que vão ouvir. E, permite, uma maior cordialidade na exposição.

Mas antes de entrar na matéria, gostava de salientar, a propósito da flauta, que tudo vai dar a Camões. E ocorreu-me, e felizmente trouxe “Os Lusíadas”, também trouxe “A Lírica” para o caso de alguém, a partir das seis da manhã, quisesse que eu lesse “A Lírica” inteira, ocorreu-me, a propósito dos “Lusíadas” que a própria frauta vem mencionada, logo no princípio.

 

«Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda,

Mas de tuba canora e belicosa,

Que o peito acende e a cor ao gesto muda;»

 

Quando Camões fala na tuba canora e belicosa, está-nos a falar no Canto Épico. Mas ele deixou de usar a frauta, a flauta no seu Canto Lírico como, talvez, tenhamos tempo de ver. Gostava também de dizer às gentis frequentadoras deste curso que Camões era um homem muito feio, o que talvez sossegue os simpáticos frequentadores porque, com certeza, qualquer deles é mais bonito que o Camões. (Risos) Dizem testemunhos da época que era ruivo a tender para o açafroado, portanto, devia ter o cabelo entre o ruivo e o louro e que afeiava-o, notavelmente, a falta do olho direito. Ele próprio, ironizando em relação a si mesmo, dizia que manquejava de um olho.

Não vou começar por falar, propriamente, do seu trajecto biográfico, nem da sua obra mas, abordar de um outro ângulo, este aspecto: o Camões começa os Lusíadas com os versos que toda a gente ouviu, “as armas e os barões assinalados”.

E, depois, são dois exemplos que eu vou dar, no Canto

V tem uma passagem curiosa que eu peço licença para ler na íntegra:

 

“Cantem, louvem e escrevam sempre extremos

Desses seus Semideuses, e encareçam,

Fingindo Magis Circes, Polifemos,

Sirenas que com o canto os adormeçam;

Dêem-lhe mais navegar à vela e remos

Os Cicones, e a torra onde se esqueçam

Os companheiros, em gostando o Loto;

Dêem-lhe perder nas águas o piloto;”

 

Ventos soltos lhe finjam, e imaginem

Dos odres e Calipsos namoradas;

Harpias que o manjar lhe contaminem;

Descer às sombras nuas já passadas:

Que por muito e por muito que se afinem

Nestas fábulas vãs, tão bem sonhadas,

A verdade que eu conto nua e pura

Vence toda grandíloqua escritura."

 

     Estas duas estrofes são a síntese de quê? Da Odisseia

de Homero. Vêm aqui referidos quase todos os episódios importantes do trajecto de Ulisses a regressar a Ítaca, a regressar da Guerra de Tróia à sua pátria postos, exactamente, no centro dos Lusíadas, no centro do poema. Os Lusíadas têm 1.102 estrofes e, se nós as numerarmos, de 1 a 1.102, estas duas estrofes estão aí pelas 552, 553. Portanto, no centro do poema, Camões coloca uma remissão para uma das primeiras Epopeias da humanidade. Com a importância de que, como que ilumina à partida desse núcleo radiador, a figura de Vasco da Gama. Vem logo referido a seguir, como Vasco da Gama, “o facundo Capitão”, etc.

Eu peguei nestes dois exemplos para dizer que Camões, sem a cultura europeia, não teria sido o vulto importante que é, o vulto, para nós, essencial. Antecipo, dizendo que para mim, ele é o Maior Português de Sempre, mas depois, eu explicarei porquê. Se não tivesse sido herdeiro de uma tradição cultural densa e muito antiga, muito longa que começa em Homero; se não tivesse sido herdeiro de Virgílio, “as armas e os barões assinalados” é a tradução quase literal do princípio da Eneida, “ Arma virumque cano”,“canto as armas e o homem, canto as armas e o barão”; se não tivesse aprendido com Petrarca; senão tivesse lido a poesia de Ariosto, Camões não teria sido Camões. Porque a cultura é um tecido contínuo e, cada vez mais, enriquecido e, por cada criador cultural, faz sua, à sua maneira, a herança que recebe, seja na literatura, seja na pintura, seja na música, etc., etc., etc.

Primeira nota que eu queria deixar, não há inovação a partir do nada, na cultura. Um criador é sempre um herdeiro de tudo aquilo que o precede e, ao mesmo tempo, um vizinho em contacto com tudo aquilo que é seu contemporâneo.

A segunda nota que me parece importante e é política, é esta: nós, hoje, vivemos uma situação completamente diferente daquilo que há trinta anos se chamava, o conflito de gerações. Há trinta anos, os filhos opunham-se aos Pais, em termos políticos, por exemplo, muitos filhos de famílias de direita, cresceram a afirmar, na sua adolescência, ideologias de esquerdas e vice-versa; filhos, houve, em muitas famílias de esquerda que enveredaram pela direita, embora nalguns casos, depois, tenham transinversado. Ou por questões de maneiras de vestir, ou por diversões preferidas, o conflito de gerações foi norma, como afirmação de um certo tipo de ruptura e de aparecer uma nova geração a disputar o espaço da anterior.

E, hoje, o que se verifica não é isso. Hoje, verifica-se uma indiferença entre as gerações. Quando muito, os pais preocupam-se se os filhos andam na droga; mas, se os filhos gostam de piercing ou de rap, ou de rock, ou de tatuagens ou de outra coisa qualquer, é-lhes completamente indiferente. Isto significa, também, que não se preocupam em transmitir o legado que receberam. Ou seja, corre-se o gravíssimo risco e isto, repito, é eminentemente político, de todo esse património incalculavelmente rico e que é um contributo fundamental para a nossa identidade, se evaporar. Porque começa a verificar-se que há muito mais simultaneidade nas imitações, nos mimetismos entre comportamentos, com as novas tecnologias, com a internet, etc., etc., etc., vocês sabem disso, com certeza, muito mais do que eu do que trans-geracionalidade na transmissão do conhecimento e tradições acumuladas. Isto, a propósito de Camões, é fundamental porque Camões é um dos obreiros, um dos agentes, um dos construtores da nossa identidade.

Por outro lado, a identidade – e estamos numa Europa que é um mosaico de identidades nacionais e de culturas nacionais –, a identidade é uma das armas mais eficazes que nós temos ou que nos restam, depende da perspectiva, mas sempre uma arma, sempre eficaz e sempre essencial para impedir a banalização implicada pela globalização.

Estes dois aspectos, a importância da cultura para a criação cultural, em qualquer momento, e a importância da transmissão trans-geracional dessa cultura, são aspectos que, hoje, são gravíssimamente importantes para o homem de hoje e para os jovens de hoje.

Posto isto, entremos em Camões dizendo que, ao contrário de qualquer outro grande escritor ou grande autor épico, de alguém que tenha tentado cantar a História do seu País, Camões é o único, que eu saiba, que termina o seu poema com a palavra inveja. Isto requer alguma explicação porquê? Porque os estrangeiros, normalmente, ficam muito espantados, inveja, um poema nacional que termina com a palavra inveja, mas com os diabos, isto é uma coisa estranha. É tão estúpido pensar-se isso como pensar-se que Lisboa é uma cidade branca, como também fez curso nalguns meios intelectuais, a propósito de um filme que aqui há uns anos apareceu. Porque Camões termina o poema a dizer ao Dom Sebastião que não tem que fazer como fez o Alexandre Magno, que tinha muita pena de não ter um Homero para o cantar, como Aquiles tinha tido. E, portanto, diz para o Dom Sebastião, a quem propõe que faça novas façanhas, novas conquistas, que expanda a presença portuguesa no mundo, que ele, Camões, está em condições de o cantar. E diz:

 

«De sorte que Alexandro em vós se veja,

Sem à dita de Aguiles ter enveja.»

 

São os últimos versos dos Lusíadas. Ou seja, não tenhas medo de fazer façanhas que eu estou aqui para te cantar e eu serei o teu Homero. Não vais ser como o Alexandre que tinha inveja de Aquiles e da sorte que Aquiles teve, em ter tido um Homero para o cantar. Este é o sentido.

Mas há um outro sentido nisto. É que quando o Camões se inculca a rematar o seu poema desta maneira, está a fazer uma afirmação da consciência que ele próprio tem da sua própria qualidade, do seu próprio estro, do seu próprio nível literário, como sendo o único que o pode fazer. Isto no século XVI, é uma afirmação de individualidade criadora e de orgulho da criação artística como há poucos exemplos na época, em toda a literatura europeia.

Portanto, um outro aspecto, Camões é alguém que escreve uma Epopeia - já vamos ver alguns pormenores dela - em que se afirma e não só se afirma, como ele próprio é um dos protagonistas daquela história que conta. Quando eles naufragam na Foz do Mecom que corresponde, hoje, ao Vietname, descreve-se a si mesmo, naufragando e salvando os Lusíadas. Ele vem do Extremo Oriente, não se sabe se esteve em Macau ou não, há o naufrágio e ele salva-se a nado inculcando que transportava o manuscrito dos Lusíadas numa das mãos. Isto não é assim tão original porque já o Júlio César naufragou no Egipto, também disse que tinha salvo os comentários da Guerra das Gálias, pelo mesmo processo. Mas o que é importante é que ele se introduz, a si mesmo, como protagonista da Epopeia que conta. São os versos célebres da estrofe 128 do Canto X, a falar da Foz do Mecom:

 

«Este receberá, plácido e brando,

No seu regaço os Cantos que molhados

Vêm do naufrágio triste e miserando,


Dos procelosos baxos escapados,»

 

Camões iria preso, iria sob prisão, regressando a Goa e, depois, diz quando será executado o injusto mando naquele,

 

“Naquele cuja Lira sonorosa

Será mais afamada que ditosa.”

 

Ou seja, apresenta-se, também, como alguém infeliz. Como alguém infeliz e vítima, e di-lo noutros poemas, de perseguições. Mas, não só ele – isto é de uma audácia extrema para os cânones da Epopeia e para a época – se introduz como protagonista da Epopeia, como tem a ambição de colocar a História de Portugal entre a infância e a idade adulta do Rei D. Sebastião. Dom Sebastião, a quem ele chama, Maravilha Fatal da nossa Idade e Segurança do Reino, portanto, compreendendo perfeitamente o papel que o nascimento de Dom Sebastião, dada à política de alianças entre as duas Casas Reais de Portugal e de Espanha, significava, porque o nascimento de um herdeiro da Coroa Portuguesa significava que o trono não iria parar a um Príncipe espanhol, começa a dirigir-se-lhe como uma criança no berço.

 

“Inclinai por um pouco a majestade,

Que nesse tenro gesto vos contemplo,”

 

Para aqueles que não tenham percorrido estas coisas, “gesto” significa rosto nesta expressão. Mas quando termina o poema está-se a dirigir ao homem adulto. Ou seja, ele escreve toda a História de Portugal, desde as suas origens míticas, passando pela história cronologicamente aferida até à viagem de Vasco da Gama, até ele mesmo, dentro da vida do Rei. E, de facto, se canta o peito ilustre lusitano, se canta as façanhas dos portugueses, com a consciência de que depois de estabilizada a situação militar com Espanha e a situação (…)

 

(Um minuto inaudível)

 

 (...) ir-se para fora das fronteiras europeias, e di-lo no Canto IV, tem a consciência de que, se o povo, se o peito ilustre lusitano é quem apresenta a gesta que ele canta, por outro lado, o grande herói dos Lusíadas, tal como ele trata essa figura, é o Dom Sebastião. E ele considera que o Dom Sebastião é quem polariza o destino nacional.

E sabe-se – é um história muita curiosa, que pouca gente sabe, e que eu tive ocasião de contar num livro -, o seguinte: um dia veio-me parar às mãos, um manuscrito de uma biografia de Camões do século XVII, portanto, escrita uns trinta anos depois da morte dele. E eu encarreguei um grande especialista de paleografia, o Prof. Borges Nunes, de decifrar e transcrever todo esse manuscrito. E o Prof. Borges Nunes conseguiu transcrever mesmo o que estava rasurado. E uma das rasuras dizia que, quando chegaram a Camões já doente e próximo da data em que morreu, notícias do desastre de Alcácer Quibir em 1578, ele lançou aí o fogo a outro poema que começara de escrever. Ou seja, Camões a pensar continuar, de alguma maneira, os Lusíadas, escrevendo para além do seu remate textual, quando a notícia da desgraça acontecida a Portugal queimou o seu manuscrito, segundo essa notícia que, depois, foi rasurada, talvez para evitar que olhos inquisitórios, a serviço de Espanha, viessem a pensar que isso ia reacender, mais ainda, o espírito patriótico dos portugueses.

Um outro aspecto que é extremamente importante é o da modernidade de Camões. Mas temo-nos que entender quanto a isto. Sob alguns ângulos, podemos achar que Camões era um reaccionário, conservador, católico, ortodoxo, sem dúvida que tinha notas ligadas a todos esses aspectos. Mas há uma coisa que ele compreendeu e que é extremamente moderna para a sua época. É que o comércio era o motor do avanço da humanidade para o futuro; e que o comércio era fundamental no relacionamento entre um pequeno reino no extremo ocidental da Europa e essa região a que os portugueses tinham acabado de chegar chamada Índia. É a segunda citação que eu peço licença para fazer lendo. E, então, Vasco da Gama quando se dirige ao Samorim, diz-lhe o seguinte:

 

«E se queres com pactos e alianças

De paz e de amizade sacra e nua

Comércio consentir das abastanças

Das fazendas da terra sua e tua,

Por que cresçam as rendas e abastanças,

Por quem a gente mais trabalha e sua,

De vossos Reinos, será certamente

De ti proveito, o dele glória ingente.»

 

Ou seja, ele vai-lhe propor que, através do comércio, haja um enriquecimento recíproco do Reino de Portugal e do Reino da Índia, através do comércio pacífico. Sabemos que a História, depois, evoluiu doutra maneira. Mas, o que é importante de salientar, é que Camões tem a perfeita noção de que o comércio é uma das chaves do avanço da prosperidade dos povos.

Um outro aspecto que também é importante tem a ver com a ciência. Camões é uma perfeita enciclopédica, por vezes, desactualizada – não nos esqueçamos que ele ainda perfilha uma concepção geocêntrica, em que o Sol gira em torno da Terra –, mas a propósito de tudo, da história, da botânica, da zoologia, do sistema solar, da geografia é duma riqueza de informação, absolutamente, incalculável. E, aqui, também tem uma noção muito própria e muito rigorosa da diáspora portuguesa. Normalmente, nós usamos o termo diáspora num sentido que é bastante errado. Diáspora é um conceito judaico que exprime o sair da terra a que se pertence, da terra onde se nasceu e, depois, fazer um périplo que tem, sempre, consigo o desejo de regressar ao ponto de partida. É aquilo a que os gregos chamavam nostalgia – de nostos, regresso e algia, dor. A dor do regresso, o desejo de regresso. Ulisses quando viaja está nostálgico dita, quem tem a nostalgia dita quem. Como é que Camões formula isto, em termos superiormente belos:

 

«Esta é a ditosa pátria minha amada,

A qual se o Céu me dá que eu sem perigo

Torne, com esta empresa já acabada,

Acabe-se esta vida ali comigo.»

 

Ou seja, pátria como local onde nasceu, périplo à qual «sou eu que o céu me dá que eu sem perigo torne com esta empresa já acaba» e «fim da vida», acabe-se esta vida ali, comigo. A pátria é o lugar onde eu, concluído o meu percurso pelo mundo, desejo morrer. Isto é de uma extrema elegância. Mas Camões não se limita a contar a História de Portugal até ao seu tempo. E aqui há, também, um aspecto, geo-estratégico que devemos consignar.

Que é que se passa no mundo, a partir de 1566, aproximadamente? Os Lusíadas são publicados em 1572. Passa-se que o poderio muçulmano conquista, na Costa do Malabar, posições estratégicas importantíssimas fazendo perigar as possessões portuguesas de Goa, Damão, a presença portuguesa na Índia. Esse poderio estende-se de Gibraltar, vai por toda a costa da África do Norte, passa no que é, hoje, o Canal de Suez, no mar Vermelho, vai pela costa do Malabar e vai até Java. É um cordão contínuo que põe em perigo a presença portuguesa no Oriente. Isso leva, pela primeira vez, a que a Coroa Portuguesa e os responsáveis portugueses e, digamos, a intelligentia portuguesa comece a pensar no Brasil, como alternativa. É um facto que, normalmente, nos esquece. O Brasil, até esse momento, tinha umas capitanias e tal, mas era, sobretudo, um lugar onde as naus paravam para fazerem a “aguada” quando seguiam para a Índia. O próprio Álvares Cabral descobre o Brasil, mas ia a caminho da Índia. Portanto, primeira consequência da situação geo-estratégica é que a Coroa começa a pensar que Rota do Cabo, o trajecto para marítimo para a Índia estava em perigo, e começa a pensar no Brasil como alternativa; segunda consequência, há um movimento ideológico em Portugal, no sentido de reforçar a importância da presença portuguesa na Índia.

Em 1566 são publicados os comentários do grande Afonso de Albuquerque pelo seu filho, o Brás de Albuquerque, e em 1572 são publicados os Lusíadas. Ignoram-se as circunstâncias concretas que levaram a essa publicação. Camões tinha regressado a Portugal em 1570, depois de ter estado 17 anos no Oriente. Mas há um aspecto que podemos relacionar com esta situação. Em Julho de 1572, Dom Luís de Atayde regressa a Portugal, coberto de glória pela sua vitória sobre os Romes. Os Romes eram um povo que tinha estado em conflito com os portugueses. Há manifestações de regozijo enormes, Te Deums, cerimónias, procissões, toda a Lisboa e todo o Reino andaram envolvidos nisso.

E, pouco depois, quinze dias depois, há o alvará de publicação dos Lusíadas. Dom Luís de Atayde era irmão de Vasco de Atayde, um dos grandes amigos de Camões na Índia e possivelmente esta vinda dele, numa situação em que Portugal precisa de afirmar o seus prestígio, o seu poderio, etc., etc., explica que tenha havido uma protecção especial ou uma pressão especial para que os Lusíadas fossem publicados. E temos um indício muito posterior de que pode ter sido assim porque quando Dom Luís de Atayde vai para Índia como Governador, em 1576 ou por aí, há um retrato de Camões – que já não estava na Índia – que é encomendado por uma grande figura que se encontrava em Goa para ser oferecido ao Vice-Rei, Dom Luís de Atayde; e as dimensões desse retrato coincidem bastante com as dimensões que conhecemos na edição dos Lusíadas, 1572. Eu penso que era um retrato que era para ser colado numa página de um exemplar dos Lusíadas para ser oferecido ao Vice-Rei.

Bom, mas Camões consegue contar a História de Portugal com todas as peripécias, descrever a navegação de Vasco da Gama, com observações da natureza, em muitas situações que, ele próprio, não terá presenciado. Ele podia ter escrito os Lusíadas sem ter ido para a Índia porque recorreu, sobretudo, a fontes escritas – cronistas. Há passagens dos Lusíadas que são uma crónica em verso, como chamou António José Saraiva, registos com que ele contactou e vou-lhes só dar um exemplo quanto a um dos casos mais célebres. Todos sabem que ele no Canto V, um pouco antes do episódio do Adamastor, descreve dois fenómenos naturais: uma tromba de água e o fogo de Santelmo. E é-se levado a pensar que ele teria presenciado estes fenómenos.

Eu penso que não foi nada disso. Temos que remontar à primeira viagem de D. João de Castro, uns anos antes, para a Índia; D. João de Castro era também um cientista, além de ser um grande guerreiro; D. João de Castro foi registando no seu diário de bordo, todos os fenómenos que presenciava e a desenhando a costa, também. Não pensem que aqueles mapas muito bonitos que nós conhecemos hoje da cartografia portuguesa do séc. XVI, eram os que andavam a bordo. Os que andavam a bordo eram uns esboços, tão precisos quanto possível mas rudimentares, porque senão com o mar, estragavam-se com a água do mar, com o sal, com tudo aquilo. Portanto, os mapas que nós vemos, muito bem acabados pelos cartógrafos, eram para algo na posse dos Príncipes ou para prendas entre os Príncipes. Ora, D. João de Castro quando vai à Índia da primeira vez, vê uma tromba de água e descreve-a, e desenha-a.

Depois, volta da Índia e, passado uns anos, volta a ir à Índia e vai anotando na margem do diário, as novas coisas que vai presenciando: fenómenos, situações, vestígios, bocados de cascas e de troncos à tona da água, coisas assim. Na noite correspondente à altura em que, na viagem anterior ele tinha descrito a tromba de água, assistiu ao fogo de Santelmo no cimo dos mastros, uma fosforescência no cimo dos mastros e anotou ao lado. E a meu ver, isto é que explica que o Camões tenha posto os dois fenómenos juntos. É que ele que, certamente, teve funções, não sabemos bem quais, ligadas à escrita e a compulsar documentos e elementos a bordo; certamente, ao percorrer uma cópia do diário de D. João de Castro – porque, depois, estes diários eram copiados para serem instrumentos de navegação dos outros capitães da armada – encontrou essas duas descrições, na mesma página, uma ao lado da outra, da tromba da água e do fogo de Santelmo.

Isto leva-nos à questão das fontes que um autor pode ter que utilizar para escrever o seu texto. Mas, para além da questão heróica, para além do cantar as façanhas dos portugueses, as vitórias dos portugueses que, depois, nalgumas edições foram adulteradas, por exemplo, durante o domínio espanhol, há passagens que são adulteradas, onde, por exemplo, dizia de D. Nuno de Álvares que “era açoite de valentes castelhanos”, numa edição do tempo dos Filipes, saiu “exemplo de valentes castelhanos”. Há inúmeras situações desse género.

Para além disso, Camões é capaz de uma intensidade lírica, absolutamente, extraordinária, mesmo no seu poema épico que todos conhecem, o caso da Inês de Castro, e eu só gostava de chamar a atenção para o que é, talvez, o mais belo verso da língua portuguesa. E que é um verso a propósito do episódio do Adamastor. O Adamastor conta a sua história, apaixona-se por uma ninfa, a ninfa ilude-o, quando ele pensa que está a agarrar o corpo da ninfa está transformado em rochedo e ao pé de outro rochedo. E então, diz assim:

 

- "Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano,

Já que minha presença não te agrada,

Que te custava ter-me neste engano,

Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?

 

Este verso, «ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada», é uma obra-prima ímpar.

Reparem até na gradação de consistência de textura, monte, nuvem, sonho ou nada. E só um génio é que pode escrever um verso destes e é um aspecto que, também, me parece importante de salientar. Da enorme qualidade daquilo que ele diz, no plano literário, mesmo quando dá erros. Também há erros nos Lusíadas, erros literários. No entanto, funcionam deslumbrantemente. Os Lusíadas, como sabem, são escritos em decassílabos, com regras próprias, decassílabo heróico, normalmente, acentuado na sexta e na décima sílaba, ou o sáfico acentuado na quarta, na oitava e na décima sílaba. Dois dos versos mais célebres e mais bonitos dos Lusíadas estão errados. Não têm dez sílabas, têm onze. Sabem quais são?

“Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,

Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”

No canto IX, do episódio da Ilha dos Amores. Porque é que estão errados? Porque têm onze sílabas: me-lhor-é-ex-pe-ri-men-tálo-que-jul-gálo, tem onze sílabas; para ter dez temos que ler, expri-mentá-lo.

O poema termina com a profecia sobre a evolução e o destino de Portugal até ao tempo em que Camões escreve. Mas, aqui, também há um aspecto interessante que é, o da fama e o da recompensa dos navegadores; e isso é feito através de uma alegoria do amor. Eles vão ter à Ilha dos Amores – a que o Camões nunca chama Ilha dos Amores, chama Ilha Namorada, uma ilha colocada por Vénus no seu trajecto – e têm aí, primeiro, uma cena erótica com as ninfas, uma cena de perseguição e entrega das ninfas. Mas depois de satisfeitos os apetites carnais e é-nos fácil imaginar que marinheiros, depois de tantos meses a bordo, certamente, precisariam dessa recompensa, quanto mais não fosse pela boca de um poeta, se acaso não aconteceu na realidade.

Mas, para além disso, o que é que acontece que também é fundamental para compreendermos os Lusíadas? Acontece que, Tétis que é, digamos, anfitriã, leva Vasco da Gama para o cimo de um monte – esta ideia de ascese é muito importante – e dá-lhe a contemplar o quê? A máquina do mundo através do chamado globo reduzido, portanto, uma espécie de modelo em cristal, de todo o girar do orbe e das esferas.

Isto leva-nos à concepção do amor como motor do funcionamento cósmico, ou seja, da presença de Deus, mas o que é Deus? Ninguém não entende, diz Camões.

Não tenho muito tempo, mas queria também dizer que, na Lírica, este homem que soube cantar, tão bem, a identidade nacional, a história nacional, afirmar as virtudes nacionais e ser crítico também dos vícios nacionais, crítico da cobiça, da ambição, da intriga, da cupidez pelo dinheiro. Dois dos versos mais extraordinários dele é a crítica àqueles que vão,

 

“Amando cousas que nos foram dadas,

Não para ser amadas, mas usadas.”

 

 

Ou seja, o dinheiro não deve ser amado por si, deve ser utilizado e os meios devem ser utilizados não amados enquanto meios. Mas sendo também um moralista, nesse aspecto, Camões é um homem capaz de exprimir a condição humana nas suas contradições da maneira mais extraordinária. E, aí, é o grande poeta da Lírica, é o homem dos sonetos, é o homem das canções, sobretudo, da última canção autobiográfica em que ele traça, praticamente, o seu trajecto biográfico, e é o homem das redondilhas “Sobre os rios que vão”.

Eu não tenho tempo para lhes falar destas coisas, mas há um soneto que faz pendant com «mas que é Deus, ninguém o entende» que me parece muito importante para esta pequena introdução. É um soneto em que Camões, por exemplo, tem dois versos em que antecipa Shakespeare. Quando Shakespeare diz no Hamlet, «há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua vã filosofia», temos Camões a dizer, «e feitos mil revolve o pensamento e não sabe a que causa se reporta, mas sabe que é o que mais que vida e morte, que não o alcance humano entendimento». Ou seja, de alguma maneira, ele está a dizer que há mais coisas a que não chega o entendimento humano. Então, neste soneto que é muito filosófico, ele diz, ele tem um final que mostra que não uma explicação racional para as coisas; há outro tipo de abordagem da realidade e de conhecimento da realidade que, à falta de melhor, é o que nos resta:

“Verdade, Amor, Razão, Merecimento

Qualquer alma farão segura e forte;

Porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte

Têm do confuso mundo o regimento.



Efeitos mil revolve o pensamento,

E não sabe a que causa se reporte;

Mas sabe que o que é mais que vida e morte,

Que não o alcança o humano entendimento.



Doutos varões darão razões subidas;

Mas são experiências mais provadas,

E por isso é melhor ter muito visto.



Cousas há i que passam sem ser cridas

E cousas cridas há sem ser passadas...

Mas o melhor de tudo é crer em Cristo”

 

Este final que é de um absurdo genial, mostra que, para um homem como Camões, muitas vezes, não há uma explicação do mundo, de maneira que, só lhe restava ter fé que, para ele, era fé em Cristo, «o melhor de tudo é crer em Cristo». E não resisto também a ler-vos um outro soneto. Não se sabe quantos sonetos Camões escreveu. Não se sabe, cada especialista diverge, uns dizem que são duzentos e tal, no tempo de Diástomo, da crítica camoniana, chegou-se aos quatrocentos tal; hoje, há um número que, provavelmente, andará, com rigor, pelos cento e cinquenta e poucos.

Mas este que lhes vou ler, que é um dos mais conhecidos, é um soneto que, recentemente, foi discutido em termos de autoria, por um grande especialista, talvez o maior especialista vivo de Camões que é o Prof. Vítor Manuel Aguiar e Silva, com quem eu tenho andado em polémica porque eu acho que não há mais ninguém no séc. XVI que pudesse escrever este soneto. E, se não há mais ninguém, temos o Camões; será, a meu ver, um erro não atribuir a Camões, até porque há manuscritos que o atribuem. E este é um soneto desesperado; não vos vou falar dos sonetos em que, ou ele se debate nas contradições amorosas – que é uma outra linha que vem até aos nossos dias -, do «amor é fogo que arde sem se ver» ou, como diria o David Mourão Ferreira, um grande poeta desaparecido há onze anos, «se, é sem dúvida, amor esta explosão de tantas sensações contraditórias» é a mesma coisa que o Camões disse. E, por sua vez, o Camões disse o que o Petrarca tinha dito duzentos anos antes.

Mas este é um soneto negro, desesperado, provavelmente até herético pelo seu desespero: já não é o melhor de tudo crer em Cristo, aqui já não há saída. Que é a célebre de paráfrase do livro de Job, diz ele: «morra o dia em que eu nasci”.

 

«O dia em que eu nasci, morra e pereça,

Não o queira jamais o tempo dar,

Não torne mais ao mundo e, se tornar,


Eclipse nesse passo o sol padeça.



A luz lhe falte, o sol se lhe escureça,

Mostre o mundo sinais de se acabar,

Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,

A mãe ao próprio filho não conheça.





As pessoas pasmadas, de ignorantes,

As lágrimas no rosto, a cor perdida,

Cuidem que o mundo já se destruiu.



Ó gente temerosa, não te espantes,

Que este dia deitou ao mundo a vida

Mais desgraçada que jamais se viu!»

 

Reparem que há aqui um verso quem também é um verso tão genial como aquele, «ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada», que é, «eclipse nesse passo o Sol padece», reparem nesta prostração(?) toda em sons de P e de s’ – chamada a aliteração dupla.

A aliteração, para quem não esteja nestas coisas, é a utilização da mesma letra e consoante inicial, numa série de palavras de uma frase, por exemplo, forte, fiel, façanhoso, fazendo, feitos, famosos, é uma aliteração. Ou, como se dizia a brincar quando eu era pequena, os “vomveiros voluntários de Valongo vorraram os vicos das votas vrancas na vosta de voi”.(Risos) Isto também é uma aliteração. E é uma receita. Além de una notazinha de humor no princípio, já, perto do fim, acrescentem outra que não vos faz mal nenhum e a audiência também gosta.

«Eclipse nesse passo o Sol padeça» é um verso, absolutamente, genial na sua orquestração. Mas, além disso, temos que, esta visão apocalíptica de catástrofe total, «a mãe não conheça o filho, o ar chova sangue», etc., etc., é projectada nele e na sua vida, a vida mais desaventurada que se viu é o dia do seu nascimento e ele, por ele sua vez, projecta-se na catástrofe. É um soneto que não tem nada ver com «o melhor de tudo é crer em Cristo», é o soneto mais existencialmente desesperado de toda a literatura portuguesa.

Gostava de terminar com um a parte inicial de aquilo que eu considero, talvez, o maior poema lírico do ocidente europeu que são as redondilhas “Sobre os rios que vão”. Muito rapidamente, é um poema que tem 365 verso, portanto, como os dias do ano e que goza um Salmo, o Salmo 136 da Bíblia. O Salmo em que os judeus cativos em Babilónia choram as saudades de Jerusalém e de Sião, portanto, da sua pátria terrestre e da sua pátria celeste. Camões aproveita este ensejo para fazer uma recapitulação amarguradíssima da sua vida mas, a partir de certo momento do texto, há aqui como que uma reconversão e essa reconversão orienta-o ad o divino, ou seja, orienta-o para a salvação da sua alma. Cada versículo do Salmo é introduzido ao longo deste texto, e eu tive ocasião, há muitos anos de mostrar que isso obedece a um princípio matemático e pitagórico. Não vamos, agora, perder tempo com isso.

Só salientar, antes de ver os primeiros 45 versos que, e já que começámos falando na flauta, também neste poema, o Camões fala na flauta. A flauta é, desde os gregos, considerado o instrumento dos sentidos, o instrumento do erotismo, o instrumento da pulsão e do instinto do corpo humano. E à flauta contrapõe-se a cítara, que é um instrumento para cantar a Apolo, é um instrumento que Apolo utiliza, a lira é um instrumento para cantar à divindade. Também, neste poema, o Camões faz a chamada palinódia, ou seja, um discurso de sentido inverso àquele que tinha feito até aí, uma espécie de arrependimento. E, portanto, pendura a cítara com que cantou, com que cantou os seus instintos vitais, a sua poesia amorosa, os seus encantamentos para empunhar a lira para cantar à divindade. Não vamos chegar a esse ponto, mas vamos só pegar nos primeiros 40 versos.

Também é importante notar que Camões que tratou, como ninguém, a herança italiana e espanhola, do decassílabo, do petrarquismo, portanto, inovou extraordinariamente, entre nós, aqui, usou o metro, a chamada medida velha, o metro tradicional que, até fins do séc. XV, era típico da poesia portuguesa.

 

«Sôbolos rios que vão

por Babilónia, me achei,

Onde sentado chorei

as lembranças de Sião

e quanto nela passei.

Ali, o rio corrente

de meus olhos foi manado,

e, tudo bem comparado,

Babilónia ao mal presente,

Sião ao tempo passado.

 

Ali, lembranças contentes

n'alma se representaram,

e minhas cousas ausentes

se fizeram tão presentes

como se nunca passaram.

Ali, depois de acordado,

co rosto banhado em água,

deste sonho imaginado,

vi que todo o bem passado

não é gosto, mas é mágoa.

 

E vi que todos os danos

se causavam das mudanças

e as mudanças dos anos;

onde vi quantos enganos

faz o tempo às esperanças.

Ali vi o maior bem

quão pouco espaço que dura,

o mal quão depressa vem,

e quão triste estado tem

quem se fia da ventura.

 

Vi aquilo que mais val,

que então se entende milhor

quanto mais perdido for;

vi o bem suceder o mal,

e o mal, muito pior,

E vi com muito trabalho

comprar arrependimento;

vi nenhum contentamento,

e vejo-me a mim, que espalho

tristes palavras ao vento.»

 

Porque é que Camões é, para mim, o maior português de sempre? Para já porque, comparar portugueses, figuras históricas das mais variadas áreas é uma pura falácia: é impossível comparar um cientista com um guerreiro; é impossível comparar um navegador com um cantor de ópera, por exemplo.

Quando falamos do maior português de sempre, estamos a pensar no potencial simbólico que uma determinada figura tem para nós enquanto portugueses. Simbólico, de tal maneira simbólico, que essa figura avulta ao longo de um trajecto que tem mais de oito séculos de História.

Ora, Camões é, por um lado, quem melhor deu forma, pela palavra e expressão, à identidade nacional. Camões fala da ditosa Pátria, sua amada, pela via da História e pela via da Língua. Não se esqueçam que Vénus quando vai ter Júpiter pedir-lhe auxílio para os portugueses e pensa na língua portuguesa na qual, quando imagina, com pouca variação crê que é latim. Camões compreende a História e a modernidade do seu tempo, e a importância ímpar dos Descobrimentos na História portuguesa e na História europeia. Camões é um crítico da Europa do seu tempo e da desunião dos Europeus, outro ponto político importante para nós hoje, na União Europeia.

Camões critica, por exemplo, a França por Francisco I se aliar com os turcos, chama a Francisco I, o galo indigno; vê a soberba alemã, a arrogância alemã, vê dos alemães, soberbo gado. E compara, literalmente, a propósito da Europa, os cristãos desunidos aos dentes espalhados por Cádomo. Europa é raptada por Júpiter e Atenor, seu pai, manda o irmão dela, Cádomo, procurá-la; e às tantas sai ao caminho de Cádomo, um dragão; Cádomo mata o dragão e os dentes do dragão caem na terra; e desses dentes caídos na terra, nascem homens que se matam uns aos outros. Então, reparem na dureza da imagem que ele dá em relação aos europeus comparando-os aos dentes que Cádomo tinha espalhado. Este «de» os dentes de Cádomo esparzidos, este «de» é um «por», é uma voz passiva que está aqui introduzida por este «de».

Camões compara, portanto, a esses homens ferozes que se matam entre si na situação de pouca paz, de uma Europa dividida pelas guerras da religião e em que, às tantas, o interesse faz com que um dos grandes europeus se vá aliar ao turco, uma das principais ameaças para a estabilidade e para a existência europeias enquanto civilização cristã.

É, portanto, um português que, tendo escrito há mais de 400 anos, mantém uma actualidade no seu pensamento e nos dá uma lição, quer enquanto grande artífice da língua – o português moderno nasce com ele -, quer enquanto visão da História, quer enquanto percepção das grandes tendências do seu tempo, como mais nenhum conseguiu fazer.

Mas, sobretudo, Camões perdurou de tal maneira na consciência do imaginário colectivo que é importante, mesmo para quem nunca o leu e se limitou a falar dele, se for português.

Portanto, não vejo mais nenhum caso, podemos achar que o maior Rei foi D. Afonso Henriques ou D. João II, o maior Primeiro-Ministro foi o Marquês de Pombal ou Professor Cavaco Silva, que o maior compositor foi João Domingos Bomtempo ou Carlos Seixas. Podemos achar isso tudo. Um que consiga conjugar todos estes aspectos relativamente ao que é a identidade nacional, esse, na minha opinião, espero que seja partilhada por muita gente, chama-se Luís de Camões. Muito obrigado.

 

(APLAUSOS)

 
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado, Dr. Vasco Graça Moura e muito obrigado, também, por nos ter emprestado a sua exposição pedagógica sobre Luís Vaz de Camões, que nós trouxemos para Castelo de Vide, que vocês viram no Centro Cultural quando fizeram a visita a Castelo de Vide. Foi graças ao Dr. Vasco Graça Moura que nos emprestou essa exposição e a, nós, que a emprestámos ao Município de Castelo de Vide, que durante alguns dias, tivemos uma exposição pedagógica sobre aquele que o nosso convidado considera o melhor português de todos os tempos, aqui, no Centro Cultural deste simpático Município do Alentejo Laranja.

Laranja são também estas bolas e estes «recuerdos» que o Pedro Rodrigues fez questão de distribuir que foram os elementos da Campanha de Verão da JSD e que, agora, nos foram oferecidos durante este jantar e que são uma cadeira pequenina para o Duarte Marques ou para o Paulo Colaço; e umas bolas contra o stress do Governo. Portanto, quando vocês se sentirem irritados com o Governo, já sabem, põe a bola na mão e dão três apertões, e o stress passa.

Vamos então, agora, entrar na fase de debate. Vamos fazer conjuntos de duas perguntas e a primeira é a Sofia do Grupo Roxo e o Fernando do Grupo Rosa.

 
Sofia Sobreiro
Boa noite. Pelo que ouvi julgo aperceber-me que a literatura é a sua primeira arte. Queria saber qual a sua segunda arte em questão de preferência. Qual aquela por que tem mais paixão, já que deu para perceber que é um apaixonado pela literatura. Obrigado.
 
Fernando Gomes Alves
Boa noite, Dr. Vasco Graça Moura. Antes, gostaria de lhe dizer que é uma honra poder estar na sua presença, com toda a sinceridade e agradecer a oportunidade prestada pela Universidade de Verão 2007 da JSD. Hoje à tarde, um dos temas tratados pelo Grupo Rosa foi a sobrevivência da língua portuguesa. Nessa perspectiva, dentro desse tema, gostaria de lhe perguntar o que é que este tema lhe diz e qual considera que seja o papel e a importância dos PALOP’s neste contexto? Muito obrigado.
 
Dr.Vasco Graça Moura
Bom, a primeira pergunta é fácil responder. Há duas artes que eu considero tão importantes, para mim, como a literatura, só que a literatura também é, em parte, o meu ofício; talvez, o principal em relação ao que me dá mais gozo e mais realização enquanto ser humano. Mas outras duas me dariam, que me teriam dado uma realização se eu tivesse unhas para lá chegar, são a pintura e a música. De resto, na minha escrita há inúmeras relações com a pintura e com a música; e, também, já agora, para voltar ao tema da conversa de há bocado, no Camões também há. Basta pensar no retrato do Tritão que é feita à maneira de Arcimboldo de resto, nessa exposição que está no Centro Cultural podem ver a reprodução de Arcimboldo, agregando elementos da fauna marinha para desenhar um retrato:

 

«O corpo nu, e os membros genitais,

Por não ter ao nadar impedimento,

Mas porém de pequenos animais

Do mar todos cobertos cento e cento: »

 

E assim por aí fora. Ele forma uma figura antropomórfica, a partir de elementos da fauna marinha.

A segunda pergunta põe uma questão, a meu ver, muito pertinente, mas eu penso que a resposta não pode ser dada dissociando os PALOP do Brasil e dissociando esse conjunto de Portugal. A língua portuguesa é uma com várias frentes e com previsível evolução, segundo várias linhas, que não sabemos até que ponto a levarão daqui a 100, 200, 500 anos. Há forças centrípetas, quanto mais não seja o contacto dessa língua com dialectos locais em África ou em Timor, em geral com o inglês; e há forças centrífugas, hoje representadas por uma maior consciência do que é a importância da língua portuguesa, quer enquanto língua e cultura, quer enquanto língua curricular; e as novas tecnologias que permitem contactar em português com qualquer parte do mundo e, portanto, com qualquer parte também do mundo que fala português.

O problema que se põe é o das políticas. E o problema das políticas é um problema que Portugal não pode resolver sozinho. Ora, o grau de empenhamento, em que os vários países que falam português estão situados, quando têm este problema, é muito diferente. O Brasil não liga grande importância, provavelmente os países como Angola ou Moçambique ligam uma grande importância. Porque a prática política, a prática administrativa, a prática escolar, a prática criadora, nesses países, ou se faz em português ou não se faz. E eles não podem correr o risco de que faça em inglês na zona da África anglófona ou que se faça francês na zona da África francófona. Simplesmente são países que não têm ainda meios para afirmar nos fóruns internacionais, para exigir nos fóruns internacionais, a presença do português. Neste momento, nós não somos donos da nossa língua, mas temos uma grande responsabilidade por ela. E essa responsabilidade é que vamos tentando efectivar e concretizar, de uma maneira ou doutra, insistindo e exigindo que o português seja falado, por exemplo, nas instâncias da União Europeia; procurando que as agências do Governo português, do Estado português podem promover a língua e cultura portuguesa no estrangeiro, funcione eficazmente; e uma série de medidas ligadas a esse aspecto. Por exemplo, uma pergunta que eu vi escrita há bocado, punha a questão da CPLP e do seu papel neste aspecto. Eu tenho as maiores dúvidas quanto à eficácia da CPLP por uma razão muito simples. É que é um álibi para criar uma estrutura diplomática que não tem meios. E quem não tem meios não faz nada. Portanto, eu penso que a CPLP, no estado em que actualmente funciona, não tem qualquer hipótese nada que se veja, ou nada digno desse nome.

E vejo, com preocupação, nalguns jornais que, agora, se fala outra vez no Acordo Ortográfico. O Acordo Ortográfico vai assassinar a língua portuguesa tal como se fala em Portugal e tal como fala em África.

Para vos dar pequenos exemplos, se passarmos a aplicar a regra de formação dos plurais nas palavras compostas, teremos uma palavra no plural que será pedraimanes, sabem o que é? Pedras íman. Em Angola, suprimos o P da palavra adopção e teremos que passar a ser pronunciada adoção que se confunde com a palavra derivada do verbo aduzir. Portanto, há catástrofes que vão acontecer, para além da ruína dos autores de manuais escolares, os autores dos dicionários, etc., etc., dos editores em Portugal. Mas, esperemos que isso não vá por diante, vamos ver. Creio que respondi às duas perguntas.

 

Dep. Carlos Coelho: - Jorge Miranda, Grupo Verde.

 
Jorge Miranda
Boa noite. Quero saudar em nome do

Grupo Verde, o Dr. Vasco Graça Moura e dizer-lhe que é um prazer tê-lo, aqui, connosco, esta noite. Bem, a minha pergunta é a seguinte: temos estado aqui a falar do Melhor Português de Sempre durante toda esta semana, inclusive, aqui, neste jantar, mas uma vez que trabalha no Parlamento Europeu e, nesse contexto, num contexto europeu, qual é para si e porquê, o maior europeu de sempre?

 
Dep. Carlos Coelho
Fernando Araújo, Grupo Amarelo. Está proibido de perguntar quem é o melhor do mundo inteiro. (Risos)
 
Fernando Araújo
Muito boa noite. Um cumprimento especial ao Dr. Vasco Graça Moura. A integração europeia foi, inicialmente, marcada por questões mais económicas. Só com o Tratado de Maastricht é que a política cultural assume a sua própria base jurídica. E as nossas questões são: qual é que acha que deve ser a estratégia europeia para a cultura num mundo cada vez mais globalizado? E em que medida é que a cultura poderá contribuir para uma maior visibilidade externa da União Europeia, tendo em conta toda a sua diversidade cultural. Obrigado.
 
Dr.Vasco Graça Moura
Bom. Quanto ao maior europeu de sempre, põem-se os mesmos problemas que se põem em relação ao maior português de sempre. Uma maneira muito impressionista ocorre-me, Dante Alighieri, não só porque é também o criador de uma língua nacional, ele é, no fundo, quem funda a língua italiana e que hoje se fala em Itália. É um enormíssimo poeta que, através da sua viagem no mundo post-mortem consegue também espelhar todos os aspectos da condição humana. É um homem virado para o transcendente, em termos que depois, em minha opinião, só são aproximados por Camões. E é um dos primeiros defensores da unidade europeia. Fazia-o em nome da monarquia europeia ou da monarquia universal, e fazia-o em favor do Império. Mas esse Império tinha como objectivo, congraçar os europeus a uma grande entidade e, portanto, de algum modo, descontado tudo o que o tempo colocou no meio da época de Dante que morre em 1321 ou 1322 e o nosso tempo; descontado tudo isso, é um dos grandes pensadores da necessidade da unidade europeia.

A questão da cultura no mundo globalizado. Essa pergunta é extremamente importante, para mim, porque estou, precisamente, a trabalhar num relatório da minha Comissão, que é a Comissão da Cultura, Educação, Juventude, Desportos e Comunicação Social, sobre uma comunicação da Comissão Europeia ao Conselho, ao Parlamento e aos Comités de Regiões Económica e Social, a propósito da inscrição da cultura na Agenda de Lisboa, num mundo globalizado.

Devo dizer que há para aí quatro anos, numa intervenção no plenário, eu tive ocasião de salientar que não se podia falar de Agenda de Lisboa, de uma estratégia digna desse nome, se a cultura não fosse incluída. Finalmente, não por a Comissão ter lido o diário das Sessões, daquilo que eu disse, mas porque terá chegado à mesma conclusão, ela propõe, de facto, um esforço novo, quer das instituições europeias, quer dos países-membros, quer mesmo das entidades a nível regional e local, no sentido de a cultura ser um motor da Agenda de Lisboa. Isto é um ponto de uma importância política extraordinária porque, pela primeira vez, a cultura aparece escrita numa Agenda política, nestes termos. Não se esqueçam que nos termos do artigo 151º do Tratado, áreas como a Cultura e a Educação, por força do princípio da subsidiariedade, são áreas da competência exclusiva dos Estados-Membros. O que o artigo 151º propõe são acções de cooperações, acções que têm a ver com o património comum, com a herança cultural também.

Ora, exactamente, a perspectiva que até aqui tem sido encarada para a cultura como alguma coisa que gera mais emprego. Quando há aspectos muito mais importante, embora a cultura corresponda a 3.21 do PIB europeu, nos empregos que gera.

Mas há aspectos muito mais importantes. Desde logo, a questão da identidade europeia, desde logo, a afirmação da Europa no mundo globalizado enquanto alguma coisa que é diferente do resto. Em segundo lugar, essa cultura não pode ignorar aquele património, aquela herança que eu comecei por referir a propósito do Camões, esses aspectos trans-geracionais que chegam até nós e que são fundamentais. E que são fundamentais, quer nos aspectos comuns nas relações entre os países porque há coisas por exemplo, o gótico. O gótico existe em Portugal, em Espanha, em França, em Itália, no norte da Europa, há traços comuns dessa herança, traços partilhados, mas há traços individualizadores. A maneira como um checo sente uma determinada realidade cultural não exactamente igual à de um português, o que é naturalíssimo. E, por exemplo, nas músicas nacionais vemos que há muitas diferenças, todas elas reconduzidas, quase sempre, ao chamado sistema tonal que é um sistema europeu. Por outro lado, a cultura permite à Europa valorizar aquilo que exportou para os outros continentes.

Hoje, a cultura europeia, desde que os portugueses colocaram uma espingarda no Japão (...)

 

(Um minuto inaudível)

 

...claro que como um continente matriz do muito do que se tornou hoje o património universal e património de civilização é absolutamente fundamental.

E, finalmente, abreviando muito, eu penso que isso poderá ser uma maneira de tornar mais conscientes, quer as autoridades europeias, quer as autoridades nacionais, quer as autoridades regionais e locais da importância de serem conjugados esforços para que, em todos os aspectos ligados à cultura, haja essa dinâmica que poderá permitir ou deverá permitir que os europeus se conheçam uns aos outros. A cultura e a partilha da cultura é um elemento fundamental para o conhecimento recíproco. Nós podemos dizer que um minhoto conhece um algarvio, porquê? Porque para além de falarem a mesma língua há inúmeros traços comuns na sua maneira de ser. Mas não podemos dizer que um português conhece um húngaro ou que um húngaro conhece um irlandês, ou que um sueco conhece um espanhol. Não podemos dizer isso nos mesmos termos porque há ainda muitas pontes a criar e essas pontes têm sempre a ver com a partilha de uma herança cultural comum e com o conhecimento da maneira como essa herança é assumida especificamente nos seus traços próprios em cada um dos Países-Membros.

Portanto é fundamental, está neste momento na ordem do dia e por uma coincidência dos Deuses acontece que por parte do Parlamento sou eu que estou a ter esse trabalho de propor aos meus colegas um Relatório e que se espera seja votado antes da próxima reunião de Conselho de Ministros de Cultura e que terá lugar a 23 de Outubro.

 

Dep. Carlos Coelho: - Tiago Rapaz, Grupo Encarnado e Bruno Moura Ferreira, Grupo Azul.

 
Tiago Rapaz
Muito boa noite, Dr. O que é que, para si, Portugal precisa neste momento? De um Luís de Camões ou de uma nova geração de descobridores?
 
Bruno Moura Ferreira
Muito boa noite. Falou há pouco na importância da identidade cultural. Vivemos, actualmente, numa sociedade de comunicação associada às novas tecnologias e a minha pergunta é o seguinte: tem receio que com o surgimento das novas tecnologias em que as relações pessoais são substituídas exactamente por essas tecnologias e as pessoas deixam de comunicar de uma forma interpessoal passando para uma relação que passa muito para além da pessoal. E a questão prende-se com, será que isto contribui com que a cultura e os aspectos culturais, tradições inclusive, sejam substituídos por um mundo virtual?

Obrigado.

 
Dr.Vasco Graça Moura
Começo por essa pergunta. Eu penso que esse é um risco. Exactamente por ser um risco leva à tal banalização e à tal generalização ao tal tipo de imitação ou mimetismos nos comportamentos que tende a passar para um plano secundário a tradição trans-geracional de todo esse património imenso a que eu me referi. É um risco contra o qual a boa política será lutarmos.

Quanto à questão de se precisamos um novo Camões ou de uma nova geração de novos descobridores. Eu penso que os grandes criadores não são repetíveis nem clonáveis. O Fernando Pessoa, por exemplo, achava que o Guerra Junqueiro era um poeta maior que Camões. Mas isso era uma questão de despeito dele em relação a Camões. Não precisamos de um novo Camões. Precisaremos provavelmente de uma geração altamente qualificada, que saia da escola ao mesmo tempo capaz de inovar.  Descobrimento, hoje, será isso.  Mas nessa inovação e como condição dessa inovação não se esqueçam de que ela se explica na sua identidade, na sua inteligência e na sua própria capacidade de inovar por tudo aquilo que a precede. Se o zero não tivesse sido inventado na Índia há não sei quantos milénios, a matemática não existiria hoje nos termos em que existe. Portanto, isto que se passa no plano da ciência, passa-se no plano da cultura enquanto ingrediente essencial do humanismo. Nós estamos aglutinados em torno de uma ideologia personalista e humanista e, portanto, quando falamos em humanismo não podemos ver meramente a tecnologia como sucedâneo daquilo que nos pode identificar, explicar e justificar o nosso comportamento. Portanto, eu penso que nós precisamos é de uma geração mais qualificada em todos os aspectos, escolarmente, socialmente e culturalmente.

 

Dep. Carlos Coelho: - Grupo Bege, Adílio Leal e João Marques, Grupo Castanho

 
Diogo Marques Leal
Dr. Graça Moura, qual é o jovem escritor que mais admira?
 
João Marques
Boa noite, Dr. Para mim, devo dizer-lhe que, normalmente, o que me salta é o nervosismo antes de falar em público mas, hoje, devo confessar que é ansiedade. Estou um bocadinho ansioso porque o Dr. para mim representa a negação daquele facto obtuso que se costuma dizer que a cultura está sempre do lado da esquerda. E, para mim, o Dr. acaba por ser um grande exemplo. É o exemplo de que a cultura e a grande cultura também está do nosso lado. Ora bem, agora passando às perguntas, vou-lhe lançar duas provocações até para espicaçar um bocadinho a discussão entre nós vou-lhe perguntar, em primeiro lugar, em relação à obra de um outro considerado o grande escritor português da actualidade, Saramago, acha que é devido o destaque da sua obra? E a segunda é Nobel e perdoe-me o plágio, «monte, nuvem, sonho ou nada».
 
Dr.Vasco Graça Moura
O escritor jovem que eu penso que está a fazer a obra mais importante, neste momento, é o Padre Quentim de Mendonça que é um grande poeta. Quanto às questões que pôs, no fundo, são três e não duas. Pode-se dizer que a cultura é de esquerda e que é de direita. É um problema como o copo meio cheio e meio vazio. A verdadeira criação cultural envolve sempre uma ruptura, uma ruptura em relação ao establishment. São muito raros os casos, aliás de perfeita genialidade, como o João Sebastião Bach que é o fechar da ogiva da música até ao seu tempo. São muito raros. Normalmente, em todas as áreas da criação cultural, uma geração opõe-se à anterior mesmo que seja para recuperar coisas que já vêm de trás dessa geração anterior, e que são propostas em novos moldes. Portanto, nesse sentido da criação cultural como alguma coisa que se aposta contra o que já está, muito embora lhe venha a acrescentar qualquer outra coisa, podemos dizer que há uma dimensão de esquerda na cultura. Mas também podemos dizer no sentido da grande qualidade, de um modo geral e sobretudo na área da literatura, os grandes criadores são de direita. E são de tal maneira grande criadores que mesmo um fascista como o pró nazi como o Luís Ferdinand Céline da “Viagem ao Fim da Noite”, é admirado pela esquerda e pela direita. Como um anti-semita como T.S.Elliot é considerado um dos poetas da modernidade. Como um fascista que chegou a fazer programas de rádio durante a II Guerra Mundial como Ethra Pound é, hoje, considerado também um enormíssimo poeta. E muitos outros, alguns foram vítimas da sua ideologia. Há um grande poeta que, de resto, traduziu, pelo menos, parte dos Lusíadas, Roy Campbell que a maior parte das pessoas não sabe, nem que foi um grande poeta, nem conhece a obra, nem sabe que morreu em Setúbal, em Abril de 1957, na 2ª feira de Páscoa, num desastre de automóvel. Tinha-se fixado em Sintra e teve esse acidente.

Portanto, os grandes criadores do nosso universo cultural, muitas vezes, são de direita: Balzac era nitidamente de direita, mas Marx dava-o como exemplo para as suas análises das relações de produção e da circulação de dinheiro na sociedade. Portanto, o seu comentário tem uma meia verdade juntamente com outra meia verdade. Enquanto aposta em ruptura como qualquer coisa, há qualquer coisa de revolucionário na cultura e as revoluções, normalmente, têm um sinal de esquerda. Enquanto, por exemplo, os nazis foram eleitos democraticamente; houve voto, não houve ali revolução nenhuma; foram levados ao poder pelo voto do eleitorado, com a aliança dos comunistas, ainda por cima, o que é mais curioso. Mas enquanto grandes criadores, provavelmente os maiores criadores de todos foram figuras ou conotadas com a direita, ou próximas da direita, mesmo entre nós, o Fernando Pessoa, até escreveu um poema à memória do “Presidente-Rei” Sidónio Pais. Portanto, há esses dois aspectos.

Quanto ao Saramago, eu acho que o Saramago é um grande escritor e nós não devemos ter, em relação aos que pensam de maneira diferente da nossa, o mesmo comportamento que eles tinham, sobretudo, antes do 25 de Abril e naqueles períodos que se lhe sucederam em que procuravam extremar os campos e silenciar quem não pensava como eles. Eu acho que o Saramago é um grande escritor. Um grande escritor não escreve só obras-primas, também escreve muita palha, por um lado. E isso acontece com todos os grandes escritores: têm obras maiores e obras menores. É um grande escritor que vai buscar uma parte da maneira como formula, como escreve, como desenvolve a sua escrita, ao séc. XVII português, ele é um grande leitor do Padre António Vieira, por exemplo. É, por outro lado, um grande escritor que tem o mérito de ter sido feito a pulso; ele começou por ser serralheiro mecânico e isso é uma coisa a que devemos tirar o chapéu; serralheiro mecânico e acaba com o Prémio Nobel. De maneira que, mesmo que nós discordemos das ideias dele, eu acho que é um grande escritor. Tem um problema que eu não consigo engolir enquanto leitor dele. É que cada livro dele, pelo menos os que eu li, os últimos confesso que não li; mas não li por descaso ou desprezo; não li porque não tenho tempo. Também tenho que escrever os meus próprios livros e isso é alguma coisa que me inibe muitas vezes, que me impede de ler os outros. No Saramago há um problema que eu acho que ele não consegue resolver e que não quer resolver. É que cada livro dele é uma parábola. Uma parábola é uma maneira de insinuar, um determinado tipo de modelo do que há a fazer, para produzir resultados práticos. No Evangelho, há as parábolas que Cristo contava para, de alguma maneira, exemplificar uma situação. O que é que faz o Saramago quando Portugal e a Espanha aderem à União Europeia? Escreve a “Jangada de Pedra” em que a Península Ibérica se destaca do resto da Europa e vai encalhar, algures, entre o Brasil e a África. Ou seja, propõe, na sua parábola, uma forma de terceiro mundismo como destino para Portugal e Espanha. O que é que ele faz num dos melhores livros dele que é o “Memorial do Convento”? Há umas personagens que andam com uma garrafinha a recolher vontades. Nesta parábola que já passa para o nível do realismo fantástico, aliás, como “A Jangada de Pedra”, no fundo, há uma espécie de apelo a que as vontades se juntem para agirem contra aquilo que existe, contra o status quo. Portanto, esse dado parabólico, eu acho que a arte não tem nenhuma mensagem, senão a sua própria qualidade; não chego ao extremo do Óscar Wilde que dizia que toda a arte é perfeitamente inútil ou, “art is quite useless”. Mas penso que o que é importante é que a obra em si tenha um determinado valor, exprima um determinado tipo de interrogações perante o mundo ou procure, de algum modo, espelhar com autenticidade o universo criador do seu autor. Há outras pessoas, isso é perfeitamente legítimo, para quem a arte é um meio, o realismo socialista, os neo-realistas em Portugal escreveram para atingir um fim e esse fim tinha a ver com a revolução, e era, de um modo geral, um movimento literário que deu alguns nomes notáveis, de resto, há que o reconhecer. Mas de sinal ou pró soviético ou muito próximo disso. De maneira que não me faz impressão nenhuma que essas concepções diferentes da minha sejam defendidas e concretizadas em manifestações de cada um dos autores que as perfilham. Agora, eu confesso que não gosto de parábolas. Hão-de ser uma limitação minha, mas gosto de ler um romance sem ter que estar a pensar qual é a moral da história, compreende? Mesmo que não tenha sido intenção do autor colocar uma moral na história, e que eu a encontre à revelia das intenções do autor, pessoalmente. Em relação à sua última pergunta, nas quatro hipóteses que formula «monte, nuvem, sonho ou nada» é evidente que só a última é que está correcta.

 

 
Dep. Carlos Coelho
Dr. Vasco Graça Moura, nós temos uma tradição na Universidade de Verão que aliás já conhece e que consiste em dar a última palavra ao nosso convidado. Portanto, com a resposta às próximas perguntas, concluímos este jantar-conferência. Acho que concluímos com chave de ouro, com um registo de cultura mas também de observação do mundo e da Europa. E pedia-vos para estarem preparados, ressalvando um intervalo de meia hora que foi acordado com os coordenadores dos vossos Grupos, para às 11h20m, junto daquele canto onde estavam os computadores, fazermos a festa de despedida, iniciando com o Cabaret. E as últimas perguntas são para, primeiro, o Grupo Laranja, Eduardo Protásio.

 

 
Eduardo Protásio
Boa noite. Obrigado pela sua presença, aqui, Dr. Vasco Graça Moura. Antes de começar, gostava só de dizer uma pequena coisa. Desde hoje, tem uma pequena dívida para connosco, pois durante uma semana tomámos conta e bem da sua filha Teresa. (RISOS) Mas, agora, falando de um assunto mais sério e preocupante no nosso entender, falou que a Vasco da Gama ter sido dado a oportunidade pela mão de uma Deusa de ter visto o mundo. Mas, hoje, no mundo português, a leitura de Camões já não é uma leitura obrigatória. Que mundo português é este? Obrigado
 
Dep. Carlos Coelho
 Muito bem, o último Grupo, é o último da casa, Grupo Cinzento a quem agradecemos o simpático convívio e a conversa que fizemos ao longo do jantar. E têm o privilégio de serem os últimos a falar. Os últimos são os primeiros, diz o provérbio. Marta Bigail.
 
Marta Bigail
Boa noite a todos. Obrigado, Dr. Vasco Graça Moura, por nos brindar com a sua presença aqui na Universidade de Verão, naquele que é o último jantar da nossa Universidade deste ano. É assim, nós escolhemos Fernando Pessoa como o melhor português de todos os tempos. Gostaríamos de saber qual é a sua opinião sobre esta personagem da literatura, da poesia portuguesa.  Obrigado.
 
Dr.Vasco Graça Moura
Bom, em primeiro lugar, eu quero agradecer todo o acolhimento que deram e este grande acolhimento que deram à minha filha Teresa. Não revelarei nenhuma confidencialidade no registo normal entre Pai e filha se lhe disser que ela me disse há bocado que se tem divertido imenso e que está a gostar imenso desta Universidade de Verão. Mas penso que também me devem agradecer porque fui eu que insisti com ela para que viesse.

Sobre o ensino do Camões... Bom, eu penso que esse é um dos mais graves problemas da escola portuguesa que é duma dupla responsabilidade, de uma tripla responsabilidade. Não me refiro só a Camões, refiro-me a outros autores maiores e fundamentais da nossa cultura. Devo dizer, de resto, que para mim há em toda a literatura portuguesa apenas três ou quatro poetas que são cimeiros, é o caso do Camões, é o caso de Cesário Verde, é o caso do António Nobre, é o caso de Camilo Pessanha, talvez o Carlos Sá Miranda, pouco mais. Isto já é começar a responder à sua pergunta. Mas Cesário Verde também parece que desapareceu dos manuais escolares. Isso é uma responsabilidade colectiva da sociedade e das famílias; é uma responsabilidade que se pode assacar ao Governo que não tem suficiente capacidade para perceber a importância que há no bom ensino do português e para compreender que só se aprende bem uma língua através dos testemunhos que dela existem e esses testemunhos são dados pelos grandes autores; e é uma responsabilidade dos desvarios por que passou o ensino do português nos últimos 40 anos. Começa antes do 25 de Abril. Portugal no plano da pedagogia foi importando sucessivamente modas e teorias pedagógicas que não estavam testadas, adaptou-as mecanicamente à realidade portuguesa e, hoje, muitos professores inclusivamente que estariam disponíveis para ensinar melhor, não conseguem porque os mesmos não receberam os instrumentos adequados para isso. Esse é um aspecto terrível e que levará gerações a ser remediado, se é que o vai ser alguma vez. Nós não podemos deixar de insistir nisso, não sabemos qual é o resultado, mas não podemos deixar de insistir nisso.

Quanto a Fernando Pessoa. Eu devo dizer que não gosto de Fernando Pessoa. O facto de não gostar de Fernando Pessoa não quer dizer que não reconheça que ele é um dos maiores poetas portugueses. É o meu gosto pessoal. Eu não gosto de Fernando Pessoa porque me dá a ideia de alguém cuja obra gira em seco. Enquanto, por exemplo, um poeta como o Vitorino Nemésio é um poeta do cheio, do cheio das coisas, Fernando Pessoa é um poeta do vazio. Toda a sua obra mais importante é para nos mostrar um certo tipo de desalento e de inanidade do mundo à sua volta, e de não haver saída para esse desalento. Sei que é uma atitude que marcou a literatura nalguns aspectos, um T.S. Elliot (de quem falei há pouco) tem “The Hollow Men” cuja atitude literária é próxima. O Pessoa é um poeta que eu acho muito irregular, além disso, do ponto de vista formal. Teve um papel inovador, sem dúvida nenhuma, sobretudo com o Álvaro de Campos na nossa literatura porque veio descongestionar toda uma série de aspectos prosódicos e temáticos. Mas não sei porque razão lhe chamaria o maior português de sempre. Não é alguém que tenha forjado a nossa língua, nem que a tenha feito avançar como, por exemplo, um Aquilino Ribeiro a fez avançar ou mesmo um Vitorino Nemésio. Não é alguém que tenha, de alguma maneira, corporizado na sua obra, uma relação com o País. Ele corporiza uma relação com uma ausência globalizada e que até pode ser do próprio País. Não é alguém que se tenha notabilizado na sua vida pessoal por nada; foi um modesto guarda-livros e correspondente de línguas. Portanto, com todo o respeito que devemos ter por uma figura da envergadura dele, é inegável que é um grandíssimo poeta, de quem eu não gosto, mas isso é uma questão pessoal. Não vejo que haja, que reúna um conjunto de atributos suficientes para atribuir esse qualificativo do maior português de sempre. E, além disso, é um homem que se enganou com coisas terríveis como essa de achar o Guerra Junqueiro superior ao Camões. Quer dizer, não podemos confundir a argúcia crítica de posições do Pessoa ou alguns enormes poemas que ele deixou, com esse outro estatuto que me parece que é o que está em questão, quando se procura encontrar o maior de todos de todos os tempos. E nesse aspecto que o lugar que lhe competiria numa graduação de 1 a 100, se aproximaria, sei lá, do 47 ou do 59. Não sei, mas isso é a minha opinião pessoal.

 

(APLAUSOS)

 

Participante: - Obrigado por terem feito silêncio. O nosso convidado desta noite, Vasco Graça Moura, vai ler um poema da sua autoria. Foi escrito de uma penada, como só ele sabe fazer. E é dedicado a uma pessoa que se encontra entre nós.

 

Dr. Vasco Graça Moura: - Isto é uma pequena armadilha porque me pediram para fazer um poema, o emissário utilizado para esse efeito foi a minha filha Teresa, aqui presente. E eu pensei que era para uma sessão de divertimento em que os alunos da Universidade de Verão iriam preparar uma intervenção e cheguei cá, e vejo-me confrontado com ter que ler um texto a que procurei dar algumas características revisteiras. Mas vou ler, uma vez que me pedem:

«Coelho, o nosso Reitor,

é sabido que não peca

por lhe faltar o calor

das ideias geniais.

Diz que ficou careca

por ter ideias a mais.

E diz-se, será verdade?

A fama disso precede-o,

Que nesta Universidade

espera que haja o desvelo

de alguém inventar remédio

 de lhe crescer o cabelo.

Logo Sócrates diria,

ora esta, o cabeludo

com isto me desafia,

mas como sou muito esperto,

resolvo o caso bicudo

dos cabelos no deserto,

caso a GNR não se

atreva a fazer nada nem

prenda ninguém em Perre.

         como fez nos verdes eufémicos,

dêem-lhe uma carecada,

são cabelos mas trangénicos.

Parece que tens azia,

diria Coelho, então,

ou na tola uma avaria.

Nem percebo o que te deu,

este é um curso de Verão

bastante melhor que o teu.

Seja assim, não seja assim,

a nós soube lindamente

vir aqui, chegar ao fim

do curso sem grande seca,

vai contente toda a gente,

e viva o Reitor careca».

 

(RISOS E APLAUSOS)

 

Participante: - E agora vou pedir-vos mais um minuto e oferecer ao Director da Universidade de Verão, uma lembrança muito simbólica. Contém todas as nossas assinaturas e uma pequena mensagem. Vou ler a mensagem.

«Carlos, sabemos que não gosta de homenagens. Desta vez não deixámos passar. De qualquer forma será curto o seu embaraço. O Carlos Coelho põe muito amor naquilo que faz. A sua dedicação inspira-nos, o seu exemplo fortalece-nos. Esta é a nossa forma de dizer, obrigado.»

 

(APALUSOS)