14.30 - Assembleia (simulação) 20.00 - Jantar-Conferência com o Dr Vasco Graça Moura
01-09-2007
Falar Claro
Dep. Carlos Coelho
O nosso convidado é autor, é romancista, escreveu livros mais verosímeis e livros menos verosímeis, o mais verosímil talvez tenha sido um livro chamado "O Vigarista” o incrível relato do Sr. D. Diego, que é um romance notável, que conta a história do vigarista, que entrou em Portugal, passou por alguém que não era e que teve muito sucesso. É engraçado porque algumas das personagens do livro, são reconhecíveis em figuras da classe política. Dizem-me, não consigo provar, mas dizem-me, que por exemplo, o Dr. Jorge Coelho do Partido Socialista se sentiu retratado no livro, seguramente sem razão. Não acredito que o Dr. Dr. Rodrigo Moita Deus tenha pensado em escrever um romance para atacar alguém especialmente. Mas escreveu livros inverosímeis, escreveu por exemplo um livro chamado "Será que as mulheres ainda acreditam em príncipes encantados?” o que em função do título é verdadeiramente, um livro inverosímil. O Dr. Dr. Rodrigo Moita Deus é bloguista, anima um blog que alguns de vocês conhecerão e tem vária presença mediática na comunicação social e apoia a Dr. Leonor Beleza na Fundação Champalimaud. Tem como hobbie escrever, a comida preferida, ele responde que são todas, infelizmente, o animal preferido é o escorpião, terão de lhe perguntar porquê, o livro que sugere é "Diálogos no Inferno, entre Maquiavel e Montesquieu”, o filme que nos sugere, Henrique V e a principal qualidade que mais aprecia é a sagacidade. Rodrigo, muito obrigado por mais uma colaboração na Universidade de Verão.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Peço-vos imensa desculpa por este tempo de espera, o meu computador decidiu amuar e portanto privar-vos de meia-hora de apresentação, eu fiz aqui alguns cortes, entretanto espero que vos tenham distribuído um caderninho chamado "Falar claro” que inclui todo o material que está na apresentação, ou quase todo e tem também partes que eu tive de retirar agora da apresentação para cortarmos um bocadinho de tempo, nomeadamente a parte do escrever claro, que são alguns princípios básicos sobre boa escrita, boa escrita ou uma escrita eficaz (não lhe vamos chamar boa) e também uma outra parte sobre convocatórias para imprensa, comunicados, como é que se escreve um press release, uma parte mais pragmática e de trabalho mais duro, que vocês normalmente têm de enfrentar todos os dias. O falar claro é um produto de copyright do Deputado Carlos Coelho. Foi pela primeira apresentado aqui com o Deputado Gonçalo Capitão, entretanto o tempo passou, eu também fui acrescentando algumas coisas, portanto há coisas boas e há coisas más, as coisas boas são do Deputado Carlos Coelho, as coisas más são as minhas e se alguma coisa correr mal nesta apresentação a culpa é do computador e dos meninos do trezentos e nove que não me deixaram dormir ontem há noite. (Risos) Não queria denunciar ninguém, mas enfim.
Porque os políticos são todos iguais, que é aquele lugar comum que vocês todos já ouviram, as pessoas votam em quem lhes parece melhor. E o parecer melhor é comunicação. Não tanto comunicação política, mas comunicação num sentido mais lato. Há três elementos básicos na comunicação, o emissor, aquele sou eu, como vocês podem imaginar, a mensagem, que é aquilo que nós queremos transmitir que é o esforço que eu estou a fazer agora e finalmente o receptor que são vocês, no caso. Tudo isto é muito bonito e deveria funcionar de uma maneira eficaz, portanto, emissor, mensagem, receptor. Há um pequeno problema, isto que vocês vêem aqui é um peixinho dourado, dizem os neurocientistas que fazem investigação que tem uma memória mais ou menos de três segundos, o que quer dizer que cada vez que ele se lembra de alguma coisa, já esqueceu, portanto, não tem personalidade, faz blo blo (isto é também muito parecido). À escala com um eleitor, o eleitor não tem memória, muito menos memória para a política, odeia política, não gosta de políticos e acha a política a coisa mais chata do mundo, portanto isto é um problema para quem quer comunicar em política. Mas há outra questão. O eleitorado normalmente comporta-se como um rebanho, certo? Um rebanho que pode, ou não, ser conduzido, mas nós não sabemos bem como é que aquilo funciona. Às vezes vira para a direita, às vezes vira para a esquerda, depende da vontade, tem vontade própria, é uma chatice, mas desloca-se normalmente em manada. Isto são os partidos, o cão pastor, aquilo que vocês podem imaginar é ter um rebanho aqui, este rebanho e têm um partido, o cão pastor, têm outro partido aqui, outro partido ali e quando eles atacam ferozmente, porque estão em concorrência, o rebanho parte-se, vai cada um para seu lado, e se atacam muito ferozmente ainda, há uma série de ovelhas que fogem do rebanho, a abstenção, certo? Um princípio muito básico. Vamos então, tentar trabalhar com esta história do rebanho e da memória dos três segundos do peixinho, como é que isto se dá a volta? Três conceitos muito simples, kiss, buzz e soundbit. Eu sei que isto pode parecer assim complicado, mas é muito simples. Vamos ao primeiro, kiss- Keep It Simply, Stupid, isto é uma expressão que normalmente os publicitários utilizam. É um critério para uma campanha. A campanha tem de ser simples e tem que ser estúpida, estúpida no sentido que tem de atingir rapidamente o target, o mercado. Para isso, quando vamos construir a mensagem tempos de pensar em três questões fundamentais, uma, o que é que se quer dizer, a quem queremos dizer e o que queremos de que tudo isso seja depois lembrado, ou seja, aqueles três segundos, os três segundos da memória do peixinho. A prioridade na comunicação é que os eleitores comprem a mensagem, isto é muito simples, é tão simples que às vezes as pessoas se esquecem, por isso é que vocês vêem muitas vezes no parlamento, os Deputados falam entre eles, esquecem-se que há pessoas em casa a ver, por isso é que dizem que os políticos não falam para as pessoas, certo? Esquecem-se que há pessoas em casa a ver, portanto, estão mais preocupadas em impressionar o vizinho do que propriamente…
(Um minuto inaudível)
… comunicar lá para casa, vamos ver aqui um pequeno exemplo, (vídeo) "efectivamente hoje poderia ter sido um dia histórico, eu digo poderia porque foi sonegado um direito de cidadania a cidadões a cidadãs, militares vindas das forças armadas que isso não passa de demagagógico e…” (Risos)
Bom, há um problema grande, dizem que a televisão ofusca, e de facto é verdade porque tem uns holofotes enormes que nos batem na cara e aquilo causa alguma impressão, mas depois há sempre aquela coisa extraordinária, de querer impressionar quem lá está em casa, bem eu agora vou sair-me com o dema ma ma gógico, só que aquilo com o holofote raramente sai bem, portanto têm de planear, não falem caro e não percam tempo a falar para outros políticos, eles não vão votar em vocês, obviamente.
Outro ponto importante, escolher o meio. Nós temos uma mensagem, queremos passar a mensagem, porém, todos estes meios são diferentes, podemos ter um blog, o target de um blog não é seguramente o target da Rádio Renascença, não é? O target do Diário de Notícias, também não é o target da Rádio Renascença nem o target de um blog. Se vocês estão num jantar com militantes o vosso target é completamente diferente daquilo que eu vos falei até agora. Se vocês estão na SIC, o target é ainda mais diferente, portanto, cada um destes meios, tem uma exigência própria, tem um mercado próprio e tem uma exigência própria de linguagem. Aquilo que eu quero dizer pode ser sempre a mesma coisa, mas o formato em que o vou fazer é sempre diferente. Num blog, duas frases, duas linhas chegam. Na Rádio Renascença se calhar qualquer coisa que meta Deus pelo meio (Risos), no Diário de Notícias umas bocas para a concorrência, no jantar de militantes é que falo sobre os assuntos do partido, não falo sobre os assuntos do partido nos outros sítios e na SIC então, uma coisa mais popularucha, então na TVI nem se fala.
Buzz, o que dizem por aí. O conceito de buzz é muito simples, vou-vos exemplificar com esta extraordinária empresa chamada alf.com este é um case study em várias Universidades americanas e a alf.com nasceu na altura em que rebentou a bolha da Internet, portanto, em que todas as empresas faliram, havia uma empresa ainda para ser lançada, esta alf.com que é uma espécie de eBay, uma coisa muito simples e eles tiveram um problema grande que é, ficaram sem dinheiro para promover a empresa, portanto, iam lançar um megaportal, como é que vão fazer? O director de marketing lembra-se de uma ideia, de um conceito, que é simples, temos que pôr as pessoas aí a falar sobre a empresa, ok, muito bem, mas como? E lembrou-se do seguinte, foi à lista telefónica, procurou na América cidades começadas, cidades com o nome alf e foi comprar o nome da cidade, bom, aquilo foi uma barracada enorme, como vocês podem imaginar lá na Assembleia Municipal, discutiram para a frente, para trás, a notícia saiu para os jornais, saiu para os jornais que havia um portal que ia ser lançado queria comprar o nome de uma cidade, etc., mas eles finalmente conseguiram aprovar aquilo e a verdade é que o sucesso, o falatório foi tão grande, que a alf.com foi a data de lançamento teve mais de vinte milhões de visitas e depois venderam a empresa à eBay, como é óbvio, não é? O que é que funcionou aqui? Tinham um título bom, "America’s first.com city”, o título é sempre fantástico, ou seja, o título vende metade da notícia, fizeram um número engraçado, foram os primeiros a comprar o nome de uma cidade, deram origem a conversas de rua e tiveram exposição mediática. Com uma outra vantagem, a um custo reduzido. Isto parece que não é importante, mas é muito importante, principalmente cada vez mais os partidos vão tendo limitações na ordem do financiamento, portanto temos de descobrir sempre maneiras originais de comunicar com muita gente, de uma maneira barata.
O buzz, porque é que o buzz é tão importante? Todos nós conhecemos a conversa de café, aquilo que se diz, a conversa de café acaba por se tornar em lugar comum se forem três cafés diferentes. E o lugar comum torna-se em preconceito, vamos fazer aqui um pequeno exercício, toda a gente já ouviu de um político, "este é um corrupto”, certo? Isto marca, porque são muita gente a dizer isto, toda a gente ouviu falar de um político que dorme três horas por dia, não é? Já toda a gente ouviu esse buzz, certo? O outro que rouba, mas faz, vocês já estão a imaginar nomes e pessoas que se encaixam nestas definições, mas a verdade é que já vos contaram isto, aquele que é um óptimo técnico, não é? Esse é um arrogante, ou pior ainda, que é o buzz pior do mundo, aquele candidato que não tem hipóteses de ganhar. Bom, quando nós ouvimos isto num café acabou a candidatura. Mais vale irmos para casa. É possível controlar o que se diz por aí? Bom, controlar, não sei, mas é possível nós fazermos umas experiências e se acertarmos uma em dez, já é bom, e mais importante ainda é nós termos a consciência de que este buzz existe e que o temos de contrariar. Portanto, se nós tivermos um candidato, se estivermos a trabalhar com um candidato, a pior coisa que se pode dizer é, ele não tem hipóteses de ganhar. Nós temos de contrariar isto, temos de passar o nosso próprio buzz, temos que arranjar uma maneira qualquer de provar que ele está a ganhar, martelar uma sondagem, não sei, assim uma coisa parecida, o buzz funciona para os dois lados, portanto, conseguimos fazer coisas boas, mas às vezes acontecem coisas más, dois exemplo. (vídeo) Num discurso carregado de elogios aos imigrantes, José Sócrates, acabou por cometer uma gaffe. Todos vocês já ouviram isto não é? (vídeo) "Quero deixar-vos também uma palavra de confiança, de confiança em vós, em confiança nas vossas famílias e a certeza que se cada um de vós dará o seu melhor para um país mais justo, para um país mais pobre, perdão, para um país mais justo, mas também para um país mais solidário”. Saiu-lhe a boca para a verdade. (Acontece-lhe às vezes), de vez em quando acontece. Na verdade acontece um pequeno incidente destes e isto imediatamente circula e de repente está toda a gente a fazer anedotas por causa daquilo que o Primeiro-Ministro disse e pior, vamos ver um outro exemplo que teve ainda mais impacto, quem é que não se lembra. (Vídeo). O Carrilho não ter apertado a mão, bem, isto primeiro é uma maldade que a televisão fez ter continuado a gravar, mas o Carrilho não ter apertado a mão deu a volta a Lisboa, eu não sei, mas ali há tarde, já toda a gente tinha o vídeo, não é? Aquilo já estava a passar na televisão porque estava a circular nos e-mails, mas aquilo só estava a circular nos e-mails porque alguém da televisão tinha dado, não é? E portanto, criou-se aqui uma pescadinha de rabo na boca, com um candidato que ainda por cima já tinha a imagem de arrogante e pronto, e deu naquilo, não é? Aquilo era a prova de que ele era arrogante, as pessoas só estavam à espera de uma oportunidade, e o Carrilho deu-lhes oportunidade, isto é base.
O soundbit. O soundbit é um conceito de cinema e de rádio, normalmente para definir o melhor bocado, o melhor excerto de som. Imaginem um jornalista de rádio vai gravar um discurso, não pode transmitir as duas horas do discurso, portanto tem que escolher os melhores quinze segundos do discurso, isso é um soundbit. A partir do momento em que os políticos começaram a perceber o que é que eles faziam, começaram a trabalhar aqueles quinze segundos, deram-lhes os melhores quinze segundos possíveis, temos alguns exemplos giros. Congresso, Marques Mendes/Luís Filipe Menezes, grandes discursos, etc, etc, a única frase que ficou, "vou andar por aí”, um clássico. Um "partido sexy” do António Pires de Lima, não é? Nós queremos um partido sexy, nós queremos ser um partido sexy, ficou, toda a gente fez imensas graças, é verdade, é verdade, bem, mas aquilo deu a volta ao país num instante. "Para Angola e em força”, um soundbit já de outros tempos, "nunca erro e raramente tenho dúvidas”, esse é um grande clássico do cinema português, "geração rasca”, outro grande clássico de um soundbit, "o país está de tanga”, uma frase utilizada no Parlamento para definir a nova política orçamental do Governo e a verdade é que a frase resume praticamente tudo, o país está de tanga. "Beijar uma mulher que fume é como lamber um cinzeiro”, o novo Ze Zé Camarinha do Algarve, coitado, esta frase é uma coisa notável.
Buzzwords, da mesma maneira que há frases que ficam, há também palavras e há conceitos que ficam, tecnologia, governance, palavras da moda, I&D que é investigação e desenvolvimento, "accountibility”, uma pessoa dizer accountibility num discurso é uma coisa fabulosa, não é? Nós temos que exigir mais accountibility, Think tank’s, outra expressão, simplex, grande título, não é? Aquela história do título para soar bem, e o "jamais”, sendo que "jamais”, é outra das words… Da mesma forma que há palavras da moda, também há palavras não que um político não deve utilizar e estas vão mudando. "Empreiteiro”, um político não pode ser apanhado a dizer a palavra empreiteiro, dinheiro, não pode ser, tem que ser verbas, fundos, não pode dizer palavra dinheiro, política, um político a falar sobre política é péssimo, negócio, um político está proibido de utilizar a expressão negócio, assessor, acabou, comissão e comissões, bom, isto parece-vos uma brincadeira, mas a verdade é que isto mexe com as pessoas lá em casa, quer dizer, um político que diz, qualquer coisa como "dinheiro” no seu discurso, bandido, lá estão eles a roubar, não é, ou que falem em empreiteiro ou em negócio e tudo é um negócio, não é? Mas as palavras ganham uma conotação negativa, as pessoas criam pré conceitos, uma frase pode sintetizar toda uma doutrina. Vou-vos dar aqui este extraordinário exemplo, o John F. Kennedy foi a Berlim já depois do cerco da União Soviética, já foi depois da ponte aérea e isso foi considerado um acto de heroísmo. A União Soviética queria de facto tomar conta do resto de Berlim e ele tem esta tirada. (vídeo) "Two thousands years ago, two thousand years ago, the proudest boast was "civis Romanus sum”. Today. Im the world of freedom, the proudest biast is "Ich bin ein Berliner”.
O que é que está a dizer basicamente, "Ich bin ein Berliner”, eu sou um berlinense, aquilo que ele está a dizer é, eu sou um cidadão de Berlim, invadirem Berlim é entrarem em guerra com os Estados Unidos da América, isto foi praticamente toda a doutrina americana durante a guerra fria, estabelecer limites "Ich bin ein Berliner”, daqui vocês não podem passar, só com uma frase. Se as pessoas não memorizam três segundos, cuidado com os três segundos, um pequeno, exemplo. (vídeo) "Ask not what your country can do for you but what you can do for your country”. "There is nothing wrong with America that cannot be cured with what is right in America.”
Vocês têm uma janela de oportunidade para ficar na história, vocês não querem ficar na história pelas piores razões possíveis, vamos a um novo capítulo, a chamada cartilha Marxista.
Qual é a estrutura clássica de uma intervenção? É quase sempre esta, primeiro destrói-se aquilo que o adversário disse, depois constrói-se a nossa ideia, depois rematamos, normalmente aplicamos sempre o soundbites, os melhores soundbites é sempre a destruir, vá-se lá saber porquê, não é? E depois fechamos com um outro soundbit que é para a coisa ficar bem arrumadinha, esta é a estrutura clássica de uma intervenção, quando a coisa começa a entrar em debate e em picardia, temos que aplicar a cartilha Marxista, e a Cartilha Marxista parte sempre de um principio muito básico, isto que vocês vêem aqui, é a chamada linha Magignot, foi construída logo a seguir à Primeira Guerra Mundial pelos franceses, para travar os exércitos alemães, que sabiam que mais tarde ou mais cedo iam entrar em guerra. Durante trinta anos, os franceses gabaram-se que os alemãs nunca haveriam de passar pela linha Magignot, é impossível passar pela linha Magignot, aquilo era uma coisa fabulosa, não sei quantos canhões, túneis, a França tinha o maior exército do mundo na altura todo atrás da linha Magignot. E de repente estoira a Segunda Guerra Mundial e o que é que os alemães fazem? Muito bem, nós de facto não podemos passar pela linha Magignot, nós vamos pelas costas da linha Magignot, invadiram a Holanda, deram a volta e atacaram a linha Magignot pelas costas, os canhões não se voltavam para trás, não é? Portanto, aqueles exércitos todos franceses foram derrotados quase e sem dispararem um tiro. Quer isto dizer o quê aplicando à política, procurem o ponto fraco, tudo tem um ponto fraco. É a ordem natural das coisas, tudo tem um ponto fraco e depois de descobrirem o ponto fraco, dispararem tudo aquilo que vocês têm para aquele ponto fraco. Não vale a pena dispersarem-se, é ali que está o erro, é ali que vocês têm de bater sempre e a cartilha Marxista assenta em algumas técnicas, simplificar, generalizar, minar, martelar, ridicularizar e distrair. Quer isto dizer, que quando eu estou a responder, posso simplificar, que é extremar a mensagem, generalizar, que é ampliar o argumento até à última instância, minar, atacar directamente a credibilidade do interlocutor, martelar, repetir o ponto fraco até à exaustão, ridicularizar e distrair, como se lança numa segunda questão, é óbvio, o que é engraçado é depois nós combinarmos aqui as diferentes técnicas. Eu peguei num exemplo, fui buscar aquela proposta de lei do Governo sobre a natalidade, aquilo parece uma coisa inatacável, de facto, quer dizer, até simpático, não é? Uma coisa quase social-democrata, a proposta é engraçada, quer dizer, faz sentido, demograficamente faz sentido, portanto era um objectivo difícil, era um objectivo difícil fazê-lo com alguma pinta, e com algum fundamento. Portanto, como é que se simplificava um ataque àquela proposta? Do que percebi o seu Governo, quer mandar os portugueses para casa fazerem filhos, e reparem o termo, não é terem filhos, é fazerem filhos, logo aqui, também, já estou a ridicularizar, mas estou a simplificar a proposta, a proposta é muito mais complexa do que isso, mas na prática as pessoas só apanham três segundos, portanto, é esses três segundos são agradáveis, vou depois generalizar e do que li o Senhor Primeiro-Ministro propõe-se pagar a exorbitante quantia de dez euros por criancinha, não é bem assim, mas de facto, a partir do segundo ano, para casais com mais de dois filhos, o Governo só paga dez euros, portanto, eu peguei no ponto mais fraco da proposta e vou martelar com aquilo e pior, o Primeiro-Ministro vai dizer, não, isto não é nada assim, não são dez euros e eu vou explicar, mas não estão aqui dez euros, Sr. Primeiro-Ministro? Estão aqui dez euros, eu estou aqui a ver dez euros, o Sr. Primeiro-Ministro está a oferecer dez euros. Não, mas há mais coisas. Sim, mas os dez euros estão lá ou não estão? Martelar, vou também minar a credibilidade. Em Espanha, o Primeiro-Ministro Zapatero aprovou um pacote de incentivos, há poucos meses atrás, o Sr. Primeiro-Ministro não tem ideias próprias? Não é? Bom, a ideia é boa, a proposta vale a pena, mas o Sr. Primeiro-Ministro tem alguma coisa de original para nos apresentar assim engraçado, não é? Mas é que se não, mais vale mandar vir o Zapatero. Martelar, em Espanha, dão dois mil e quinhentos euros por criancinha, em Portugal dão dez, é o que se chama uma imitação barata, peguei nos dois pontos fracos, não é? O facto de em Espanha ter sido apresentado uma proposta semelhante há poucos meses atrás e comparei-as outras vez com os dez euros, não é? Ridicularizar, como se a proposta precisasse de ser ridicularizada, esta proposta é um desastre para a nossa produtividade, não é, é porque o incentivo é tão grande, tão grande, tão grande que nós vamos para casa fazer filhos em vez de irmos trabalhar. Distrair, não percebo essa sua fobia com a natalidade, Sr. Primeiro-Ministro é que para lançar mais jovens no desemprego já chega aqueles que aqui estão e pronto, começo a falar sobre o desemprego e estado da economia agora, ainda estar a falar sobre criancinha para daqui a dez anos. Esta é mais ou menos a cartilha Marxista.
Outro capítulo, gerir a própria imagem, gerir a própria imagem significa pensar um bocadinho na forma como os outros nos vêem, naquilo que pensam de nós e de que forma a nossa imagem influencia a forma como a mensagem é entendida, isto quer dizer uma coisa muito simples, aquilo que eu disser e aquilo que vocês disserem, não será entendido pelo público da mesma maneira, porque as pessoas tendem a partir de preconceitos, vocês ouviram uma série de informações sobre mim, portanto, a informação que eu vos for transmitindo não é, vocês vão deturpar aquilo, no melhor dos sentidos, consoante os preconceitos que criaram, se nós conseguirmos controlar isto, melhor, as coisas tendem a sair bem. Vou-vos dar aqui este exemplo extraordinário, deste senhor chamado John Major. A seguir à sra. Tacher, que foi uma políticas mais influentes do Reino Unido que vocês com certeza conhecem, assumiu o cargo, este Senhor com este ar enfadonho, tipo funcionário público, bem, mas de repartição de finanças de terceira cave, tipo, nunca viu a luz, não é? Está lá em baixo, lá escondido e de repente é Primeiro-ministro, tem de fazer discursos, (não sabia falar), tinha que se apresentar bem, (tinha uma série de dificuldades de comunicação). Como é que ele resolveu o problema? Primeiras eleições, primeiro discurso, primeira intervenção, palco preto, uma cadeira de pé alto, o Senhor chegou com o seu fato e pouca pose, tirou o casaco, arregaçou as mangas, sentou-se e em vez de discursar falou, falou não discursou, grande técnico, este homem não é um político profissional, é um trabalhador, é um engenheiro quase e aquilo pegou de facto e ele ganhou as eleições, assim. Nm todos podemos ser grande oradores, nem todos nós podemos ser Pedros Santana Lopes, nem todos temos de fazer grandes show offs de comunicação, não vale a pena, é uma questão de encontrarmos o nosso estilo, ainda a propósito do arregaçar as mangas.
Carrilho versus Carmona, Carrilho, o homem arrogante, mau, não sei quê, contra um engenheiro, não deu hipóteses, se Carrilho se candidatasse contra Pedro Santana Lopes, provavelmente a história seria diferente, tipo era uma campanha ali na revista Caras. Tipo ver quem é que aparecia mais, mas não, era contra um Engenheiro aquilo bateu em seco, bateu em seco, aquilo não pegava, o Engenheiro trabalha, não é, o Carrilho fala, acabou. Nem era das imagens, uma não imagem também pode ser mais forte das marcas, este nosso companheiro, era Presidente da Junta de Freguesia em Aveiro, foi candidato à Câmara Municipal de Aveiro, Hélio Maia, exactamente, eu quando vi a fotografia achei engraçadíssimo porque pensei, bem, chegavam lá os agentes de comunicação a Aveiro diziam, bem, esse bigodinho, isso, meu amigo, ou leva uma aparadela ou então temos aqui um problema, a gravatinha também, não sei quê, isso se poder aí trabalhar aí no jeitos, etc, mas de facto ele não fez nada disso, apresentou-se, ele era Presidente da Junta de Freguesia já, se não me engano, já há quase dez anos. E candidatou-se como as pessoas o conheciam, correu bem, uma não imagem é também uma imagem, por incrível que pareça, conhece-te a ti próprio, conhece qualidades e fragilidades, procura o teu estilo, evidência as tuas mais-valias, outra vez o ponto fraco, mas ao contrário, não é, procurem o vosso ponto forte, a maneira como os outros vos vêem e evidenciem isso e nunca, nunca, façam o jogo dos outros.
Outro princípio muito simples da publicidade, se mudarmos o rótulo de um produto, as pessoas deixam de o reconhecer e de o comprar. Quer isto dizer o seguinte, se eu estou habituado a um champô, o champô é azul, se mudam a cor do champô vou perdê-lo no Continente, mas isto também acontece em política. (vídeo) Não é um champô, é um político e durante vinte anos vocês foram habituados a vê-lo, tão, não sei quê vou para o Coliseu candidatar-me sozinho, contra todos, eu vou lá, faço, aconteça, etc., toda a gente dizia é irresponsável, o tipo é louco, não é? Mas era louco, mas era louco saudável, as pessoas lá em casa gostavam daquilo, grande maluco, bora lá, não é? Apetecia seguir o homem, estava ali um líder e de repente, para as eleições, sai isto, esta menina, não é? Então pá, eu fui traído, levei umas facadas, não sei quê, incubadora, as pessoas lá em casa estão a ver televisão, mas quem é que é este senhor? E reparem no cabelo, reparem no cabelo, o homem tem mais quarenta anos, onde é que está o Santana Lopes o miúdo do Coliseu, isto não é nada, não queira dizer que não resulte, é preciso tempo suficiente para as pessoas se habituarem, de repente apareceu-lhes um champô novo, quer dizer, não funciona.
Criar uma característica distintiva, garanto que nunca somos confundidos, mas também passa uma mensagem, uma coisa muito simples, Marechal Spínola, ninguém imagina o Marechal Spínola sem monóculo, monóculo Marechal Spínola, Marechal Spínola de monóculo.
Esta imagem é tirada da primeira entrevista de um jovem chamado Manuel Monteiro à RTP e apareceu com estes óculos, bom, o gozo que foi no país nas semanas seguintes, nos meses seguintes com os óculos, toda a gente gozou com os óculos, mas a verdade é que ninguém sabia quem era o presidente do CDS na altura e toda a gente passou a saber, era o tipo dos óculos, bom, o tipo dos óculos, aquilo correu bem ou mal, a verdade é que ele não os tira, e por falar em óculos lembrem-se por exemplo da Alexandra Abreu Loureiro, óculos Alexandra Abreu Loureiro, aqueles óculos azuis e tal, aquilo faz sentido, característica distintiva, não é? Toda a gente se lembra da pessoa por causa daquilo, e aquilo fica associado à pessoa, mas melhor ainda, vamos à parte da doutrina política. Sabem quem é o Francisco Louça, não é? Vocês não acham estranho que nenhum homem do Bloco de Esquerda use gravata? Acham que é só por calor? É uma atitude claramente doutrinária, eles estão a passar uma mensagem, eles estão a dizer, eu não sou do sistema, eu não sou igual aos outros, oh, meu amigo estou por serviço público, eu vou agora ali trabalhar para o escritório não sei quê e só venho aqui para dar uma perninha no serviço público, não me confundam com aqueles gajos, isto resulta.
Contactos com a comunicação social, sempre um problema, cuidados a ter, no vosso livro vocês têm também a parte das convocatórias das conferências de impressa, como escrever um press release, têm como escrever um comunicado, a imagem gasta-se e as amizades na imprensa também, quer isto dizer que as amizades na imprensa são normalmente alimentadas com favores, não é? E os favores cobram-se e acabam-se, portanto, cuidado. Uma imagem pode matar, como nós já vimos, leve o tempo que precisarem para responderem, acreditem em mim, eles esperam, o jornalismo de fontes é prejudicial para partidos com vocação de poder, é muito engraçado nós de facto sermos uma fonte e de vez em quando mandarmos umas bocas, não é? Mas o problema é que mais tarde tendemos a fazer carreira, e depois um dia somos Secretários de Estado, Ministros e Primeiros-Ministros e a relação de cumplicidade está criada, quer isto dizer, que depois vocês são Ministros e o jornalista está-vos a ligar às quatro da manhã para o telemóvel para vos perguntar maldades sobre o vosso colega e vocês têm que responder porque estão comprometidos, porque durante dez anos estiveram a fazer maldades aos colegas. Portanto, cuidado, num partido de poder, depois com as relações de informação.
E finalmente, a pergunta que quase toda a gente me faz nos falar claros, que é afinal, como se chama a atenção da imprensa? Muito simples, com um número, Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara Municipal de Lisboa, alguém se esqueceu do mergulho no Tejo? Não é? Foi uma maneira de chamar a atenção da imprensa e de provocar a notícia, outro exemplo, o tema tinha acabado, o referendo estava ganho, o não tinha acabado, o Durão Barroso tinha dito que não fazia referendo e põem-me cá um barco do aborto, não é? Provocaram uma notícia, isto é um grande número, de facto, eles de facto obrigavam, ou mandava um navio de guerra parar o barco ou então deixavam o barco atracar e fazer abortos, seja como for é notícia, portanto, relançaram a temática com um número, e mais recentemente um grande número, na Margem Sul os Camelos é um número fabuloso. (Aplausos) Bem, vocês vão ter, tiveram, os velhos todos a dizerem irresponsáveis, a política, mas a verdade é que a JSD já não aparecia na televisão já vai uma carradona de anos e conseguiram. Por boas razões a verdade é que aquela mensagem estava cheia de conteúdo político e as pessoas perceberam, não é? Eu ia ao café e as pessoas falavam do camelo, e aquilo fazia sentido, o gajo é um camelo, deserto é um camelo e aquilo ficou, ficou. Os números servem para aumentar a notoriedade, portanto, para lembrar às pessoas que nós existimos, mas não significam que o produto passe a vender mais. Um bom exemplo, desculpem a pornografia, não é bonito, eu sei, não é bonito, mas é um belíssimo exemplo de um número, o José Cid estava morto e enterrado, não é? E para se desenterrar resolveu despir-se, não é bonito, mas resultou. A política já não se faz nos parlamentos, já não se faz nem nos parlamentos nem nas assembleias de freguesia, nem nos sítios tradicionais, a política vai mudando, o uso combinado dos novos meios permite passar por cima da comunicação social, quer isto dizer que vocês hoje têm ferramentas para chegar às pessoas directamente, vocês não precisam dos jornalistas, vocês não precisam da comunicação social, vocês não precisam de ser fontes, hoje em dia há uma panóplia extraordinária de instrumentos que nós podemos utilizar e melhor ainda, obrigamos os jornalistas a virem atrás de nós. Vamos ver aqui este pequeno exemplo. (vídeo) Bom, estas imagens são de Madrid, a seguir aos atentados, vésperas da eleição e havia um acordo claro com toda a comunicação social, do governo, PP e a comunicação social, que não se falaria mais sobre o caso, que a tese oficial seria que o atentado era da ETA, bom, de repente começam a disparar SMS, começaram a disparar SMS marcando manifestações isto sem uma palavra na televisão nem nas rádios, portanto, não se sabia e as pessoas foram aparecendo e a manifestação foi aumentando, e o que é que a televisão teve de fazer, foi filmar a manifestação que já lá estava, e de repente o governo do PP vê-se acusado, em vésperas de eleições de ter fugido à verdade, (provavelmente fugiu), e de ter omitido informação que o atentado era da responsabilidade da AL QAEDA, o que é que aconteceu? O PP perdeu as eleições à última da hora, umas eleições que estavam no papo, porquê? SMS.
Outro exemplo muito engraçado, guerra do Líbano, Israel bombardeia, bombardeia o Líbano, fica a comunidade internacional a dizer, os judeus, lá estão eles a matar os pobres dos palestinianos, dos libaneses, que massacre… e sai esta fotografia, faz capa. Esta foi uma fotografia da Reuters, portanto, de uma das agentes noticiosas mais conceituadas do mundo e faz capa numa série de jornais lá fora. Isto é a prova de facto que os israelitas estavam a ser uns bárbaros e uns selvagens, vocês vêem Beirute em chamas, até que de repente há um tipo que se lembra de ver a fotografia em pormenor e repara, não sei se vocês conseguem ver, bom, o mesmo prédio aparece duas vezes. A Reuters, foi ver, não é? E de facto isto tinha aqui uns toquezinhos de Photoshop e esta é a fotografia original, portanto, Beirute não estava a arder assim, eu vou-vos pôr a fotografia para compararem. Reuters, preto, Beirute a arder e aqui de facto uns fumos brancos a saírem. Bom, a Reuters pela primeira vez teve que assumir que houve manipulação de imagens, isto foi um incidente gravíssimo até porque a partir daí, todas as fotografias que viessem do Líbano, ninguém podia acreditar nelas e pior, houve manipulação de imagens por causa do fotografo lá, para reduzirem custos, contrataram fotógrafo local a quem se calhar lhe interessava dramatizar a situação, passar a imagem de que o fim do mundo tinha chegado a Beirute e depois houve outros blogs que seguiram o exemplo, não é? Foram buscar estas fotografias extraordinárias que andavam a circular nas agências, reparem nos dois peluches, isto de facto é uma imagem dramática, mas reparem, então aqui vê-se lindamente, o peluche branco, está branco, num prédio que acabou de desabar, não é? Portanto, isto quer dizer que alguém levou para lá o peluche, isto fui tudo feito em blogs, os blogs obrigaram a Reuters a assumir a manipulação da imagens, condicionaram a forma como a história estava a ser vinculada e a seguir a este episódio, ninguém pôde acusar os israelitas de abuso de força, porque ninguém sabia se era mesmo verdade, blogs.
Um outro exemplo de como a política já não se faz nos parlamentos. (vídeo) O programa de John Stewart. Durante um mês, um mês, o homem fez programa dedicados ao Dick Cheney e assassinou-lhe o carácter, aquilo, depois daquilo, não sobre Dick Cheney para contar a história, quer dizer, não havia hipótese, fez brincadeiras, tudo com respeito, fez brincadeiras, gozou, o homem que atirou, claro que havia patos, havia tantos patos como armas de destruição massiça, etc., o homem destruiu a administração Bush à conta da brincadeira do Dick Cheney, isto vocês dizem, é um programa humorístico, é verdade. Uma sondagem do US Today aqui há coisa de alguns meses, dizia que 70% dos jovens americanos o único contacto que têm com as notícias é com o Daily Show, bom, o que não são notícias, não se vocês repararam, isto é humor, não é? Dizem isso, e melhor ainda, aqui há dois meses atrás, o Presidente do Paquistão, (vocês acham, o Paquistão, um país pobre é uma potência nuclear, tem porta-aviões, uma coisa que nós não temos, os MIG’S lá dentro, têm um exército grandalhão, é uma potência nuclear) vai aos Estados Unidos e não vai ao Larry King, não vai ao David Letterman, não vai a nenhum dos conceituados, vai ser entrevistado no John Stewart, ficou o mundo todo de cara à banda ninguém queria acreditar, o Presidente do Paquistão, potência nuclear vai ter com o Bush e a seguir vai ter com o John Stewart, é um estrago monumental, os políticos perceberam isto e cá está o John McCan durante as primárias republicanas pediu para ser entrevistado pelo John Stewart, o John Stewart fez-lhe o favor, o que aconteceu foi que todos os candidatos, portanto, a Hillary Clinton, o Barack Obama, toda a gente respeitável, não é, não querem ir ao Larry King, querem ir ao John Stewart, porquê? Estão a comunicar directamente com o eleitorado. Falar e comunicar directamente com o eleitorado, fenómeno, Youtube, não é? Vocês têm aqui o Barack Obama que fez uns filmes fantásticos para o Youtube, a Hillary, a Ségolène Royal, o John McCan e depois aqui neste quadradinho é o nosso Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Vamos falar sobre isso, referendo sobre o aborto. Eu tive o prazer e a enorme honra de colaborar nesta campanha, portanto sei mais ou menos como é que isto foi, nós sentámo-nos à mesa com o Prof. Marcelo de Sousa, havia dois euros ao todo para fazer a campanha, o Sr. Prof. não é Presidente de um partido, mas queria intervir. Não tínhamos outdoors, não temos partido, não temos estrutura, filmes YouTube, pronto, vamos fazer a coisa a contar, vamos fazer aqui uma coisa engraçada e que tudo aquilo fazia sentido, porquê? Porque os dados das sondagens estavam-nos a dizer que o não estava a perder em eleitorado jovem e suburbano, portanto, YouTube. Quer dizer, aquilo batia a bota com a perdigota e durante uns tempos, divertimo-nos imenso, isto é um dos filmes que nós fizemos. (vídeo) Dê-me só um minuto do seu tempo. Primado, não é? Primado, temos uma campanha email, mandámos EMS, fizemos, este é o filme de todos o mais conhecido, que é onde ele apresenta a campanha e de repente vinha mais de meio milhão de visitas, meio milhão de visitas porque o site, o sim-não, tinha quinze mil visitas por dia, quer dizer o blog do Pacheco Pereira era uma coisa íntima ao nosso lado, no entanto estávamos ali, lançadíssimos e porquê? O Prof. Marcelo de Sousa no YouTube, quer dizer, nós éramos reis do mundo, não é? Acreditámos mesmo que conseguíamos dar a volta à campanha e melhor ainda, havia o sim, havia o não, e o sim-não, que é uma coisa maravilhosa, com dois euros, não é, sem dinheiro, sem dinheiro.
Isto deu a volta em três tempos, no dia a seguir, dois dias depois, os Gato Fedorento já tinham mais visitas no YouTube que o próprio Professor Marcelo, portanto, já havia mais gente a ver a réplica, o gozo do que a ver o filme original, não é? E sobretudo o discurso, o liberalizar, não é, tão não sei quê, amanhã vai ao cinema, não tem nada para fazer, ah, o aborto, não é? Matou-nos o argumentário todo, porque o eleitorado a quem nós nos dirigíamos era um eleitorado jovem, etc., provavelmente ficou, tipo aquilo fazia sentido, assim não, não é, não vamos criminalizar, e de repente saiam-me estas duas abéculas a gozarem comigo e a fazer este número, não é e a matarem-me o argumentário, uma vez mais, como vocês viram, isto é um debate político daqueles que todos vocês viram os filmes, que eu tenho quase a certeza, não é? E não foi feito nos sítios onde costumava.
É muito engraçado que nós lançámos a campanha, nós fizemos os vídeos, produzimos os vídeos, o primeiro vídeo saiu, pusemos a rodá-lo em blogs e não ligámos a um jornalista, e de repente estava toda a gente a falar sobre isso, não é? Bem sei que ajuda, Marcelo Rebelo de Sousa no YouTube é uma espécie de ver, é como ver o Cavaco Silva de ténis Puma, não é, quer dizer, é sempre notícia.
Catorze conselhos para falar em público e para terminarmos.
Primeiro conselho, o mais lógico de todos, trabalho. (vídeo) E Carmona escolheu o estacionamento como tema principal para este dia de campanha. O Sr. promete criar lugares de estacionamento, o Sr. Carrilho promete o mesmo, qual é a diferença? A diferença é que eu sei onde é que eles estão e sei onde é que os vou fazer. Muito bem, e onde então? Há tantos… olhe a Praça da Figueira, os Estádios de Futebol, o da… como é que se chama ali, o da Rua da Palma, ao pé do Hotel… Martim Moniz, há imensos…
Imensos, imensos, imensos, imensos, Carmona não tinha lido os papeis, quer dizer, há um tipo qualquer que lhe fez as notas, não é, e disse-lhe, vamos inaugurar este. Bom, isto é, zungas e a propósito de zungas, um ganda zungas. (vídeo) No final do comício, Soares voltou a ser confrontado pelos jornalistas com as palavras de Ribeiro e Castro, o candidato respondeu assim. Ficou chocado com o que disse o líder do PP? Não, não foi o líder do PP que disse isso, aquela coisa a que eu me referi do terrorismo foi o líder do CDS que disse isso, o Dr. Ribeiro e Castro que é uma coisa inaceitável e impossível, ele diz aquilo, ele é ainda por cima Deputado do Partido Socialista, um dos grandes grupos do Partido Socialista é o Partido Socialista, é o Partido Socialista Europeu, imagine lá, como é que ele vai entender-se com os colegas de parlamento a dizer essas coisas aqui no plano interno. E é feio, não é bonito e é uma pena.
Bom, isto é um caso clássico, as campanhas são cansativas, como alguns vocês sabem, são cansativas, o Dr. Mário Soares tinha estado num jantar, devem ter sussurrado qualquer coisa ao ouvido lá do Ribeiro e Castro, não sei quê dá para enfiarmos uns ferros, sai cá para fora, tens televisões, lá vou eu botar falador e não sei quê, faço isto há noventa anos, como eu não há ninguém. Cansado com o jantar, e não sei quê, saiu isto, e isto dá a volta num curto espaço de tempo. Trabalho, trabalho porquê?
Luís Filipe Vieira, José Veiga, dois casos exemplares como o trabalho compensa, o trabalho compensa porque estão a falar de duas pessoas que não sabiam sequer falar português e que hoje em dia conseguem articular frases à séria. Um deles é Presidente do Benfica e quando era Presidente do Benfica, os primeiros mandatos, ninguém se lembra dele a falar em público, a discursar. Dedicou a vida a outras coisas, não sabia falar em público. José Veiga nem português. Hoje em dia qualquer um deles dá uma entrevista na televisão com algumas dificuldades, mas dá, verdade? Isto é o trabalho, treinaram, treinaram, treinaram.
Tenham cuidado com a imagem, barba aparada, gravata direita, camisa engomada, as pessoas só votam em quem confiam, pode parecer superficialidade, mas vemos aqui um caso prático. Reconhecem ou não? Lula da Silva, não é? Com este ar, ele foi candidato, eu não sei os números certos, mas foi candidato sete vezes, sete vezes candidatou-se, sete vezes perdeu, não é? E com este ar de sindicalista, quer dizer, a classe média brasileira morria de medo. ai que me vão nacionalizar o apartamento… Reparem na pose e reparem na imagem com que ele se apresentou em eleições na última vez, bom, barbinha aparada, cabelo à séria, cortado, gravata monocolor, fato, um senhor respeitável a quem as pessoas não têm medo de entregar o voto. Cá está ele, quase parece Presidente dos Estados Unidos da América, não é? Estão a falar do mesmo homem que em 86 se apresentava assim.
Terceira recomendação, sejam sexys, apresento-vos o sucessor do John Major, Tony Blair, não é? Que quando chega faz uma sensação monumental. Para vocês terem uma ideia, a mulher mais odiada no Reino Unido, não é a Camilla Parker Bowles é a Cherry Blair, a mulher dele, e é extraordinário porque todos os estudos apontam que ele ganha as eleições com o eleitorado feminino, é sexy, aquilo fica-lhe bem e principalmente era uma coisa inédita na altura, um político bem apresentado, e engraçado, e novo, a fazer de pai de família e depois via-se ele a dar de comer aos filhos, aquela coisa, tudo aquilo era , tinha uma essensualidade que em política de facto resulta. Olhem a Joana Amaral Dias. (Risos)
Quarto conselho, sejam originais, se as pessoas dão pela diferença e ainda em Inglaterra, não é, todos vocês sabem quem é o David Cameron, o novo líder do Partido Conservador e esta extraordinária maldade, eu espero que este vídeo passe. (vídeo). Verdade ou mentira, a verdade é que a ideia de que o Cameron era uma cópia do Blair, ficou. O Cameron que estava à frente em todas as sondagens, não é só por causa do filme, esta ideia já existia antes, o filme depois só reforçou essa ideia e depois as pessoas começam a falar, este tipo é uma cópia e a verdade é que o Gordon Brown que é o substituto do Tony Blair que é uma espécie de John Major, aquele chato, enfadonho, etc., ultrapassou o Cameron, porquê? As pessoas não vão votar numa cópia, estão fartas do Blair, querem uma coisa diferente, vão para o técnico outra vez, é engraçado.
Não tenham medo, o medo atrai os abutres, tal como o sangue atrai os tubarões, aparente firmeza, olhe de frente para as pessoas, ou então por cima das cabeças. Crie um escape para o nervosismo e tire as mãos dos bolsos, há aqui um problema grande. Eu, por exemplo, odeio falar em público, sinto-me nervoso, portanto, arranjei escapes para o meu nervosismo. Não é normal uma pessoa chegar aqui a cima e botar faladura assim como quem não quer a coisa, não é normal, organicamente o corpo sente alterações, sente alterações. Sente o coração a bater mais depressa, depois há uma questão que é disfarçar isto da melhor maneira possível. Qual é a melhor forma de combatermos isso? Qual é a melhor forma de disfarçarmos? É criarmos um escape, eu por exemplo ainda não parei de brincar com a garrafa de água, se tivesse ali sentado estaria a agitar os pés, por trás da mesa, ninguém me via, mas criava aqui um escape para a minha tensão. Todos nós cometemos este problema de excesso de tensão, temos de arranjar esse escape, brincar com a caneta é engraçado, mas sobretudo não se deixarem intimidar. Não ignorem a audiência, não se ouve o discurso, vê-se, os outros estão a ver, há que representar o discurso, transmitir argumentos, emoção, fala-se com o corpo, mas não se deve apalhaçar, isto é muito simples, vocês estão-me a ver, portanto, não estão só a ouvir, às vezes nem estão a ouvir, estão só a ver e portanto tem que se ter cuidado com aquilo que nós transmitimos corporalmente, sendo que, um discurso falado com as mãos, falado com o corpo, ganha outra vivacidade.
Seja modesto, sem ser humilde nem simplório, transforme a idade numa mais valia, as pessoas em casa gostam de gente nova, ou seja, vocês têm uma enorme vantagem, são novos, como são novos, as pessoas não têm preconceitos, pelo contrário, o preconceito que existe é super favorável, eh pá aquele tipo, coisa extraordinária, não há expressão que vocês oiçam mais no futebol do Benfica que aquele gajo é um novo Eusébio, o novo é que é, não é, mas é sempre aquela coisa do… qualquer miúdo que apareça, eh pá ganda pinta, tipo, não joga nada, olha João Pereira, sei lá, o Miguel, tudo aquilo é um desastre, o Freddy Adu, não é, novo Péle, miúdo novo, digam que têm dezoito anos e fazem um sucesso enorme, isto é uma vantagem brutal, deixa-vos muito à frente da concorrência.
Oitavo conselho, não sejam chatos, aqui no principio do falar claro, há uns anos atrás, o Carlos pediu-me a colaboração, minha e do Gonçalo Capitão para gravarmos uns excertos de exemplos de coisas que são chatas e do que não é chata. Houve quem decerto não era nossa intenção, colocasse em dúvida a legitimidade da nossa posição que aqui quisemos defender, esquecendo-se porventura de que na composição da nossa pirâmide etária demográfica perto de quarenta e sete por cento da população se encontrara abaixo da linha de marcadora dos trinta anos. E agora a mesma coisa, dito de outra maneira. E para quem queira colocar em causa a legitimidade da nossa posição, basta recordar uma frase simples que toda a gente entende, que metade da nossa população tem menos de trinta anos. No primeiro estava a falar para a concorrência, a tentar impressionar o vizinho de lado, no segundo estava a falar para as pessoas, não é, não sejam chatos. Breves e concisos, não falem demais, nem depressa demais e vão treinando.
Nono, não fale do que não sabe, isto é um princípio lógico, mas que às vezes na política e principalmente na política é esquecido, as pessoas tendem a botar faladora, a fazer achamentos sobre quase tudo, errado, não, é melhor especializarem-se e quando alguém nos pergunta alguma coisa que nós não sabemos, não há melhor resposta que, não faço ideia, posso procurar, vou saber, olhe, vou perguntar, mas eu não faço ideia, qual é o mal? Não há mal nenhum, as pessoas em casa, lá está outra vez o conceito do, as pessoas que estão em casa percebem isso, vocês não têm que saber tudo, não é? Não decorem um discurso escrito…
(Um minuto inaudível)
(...) têm 15 minutos de discurso, são 30 folhas, aquilo é impossível, a coisa mais cedo ou mais tarde, mesmo os profissionais, aquilo dá asneira. Mas aquilo que normalmente se costuma fazer, é fazer uns cartões com umas ideias ou então umas notas com uma letra muito grande em páginas A4, e depois desenvolvem cada uma daquelas notas como se fosse um parágrafo do vosso discurso, e depois podem fazer adaptações. Coisa que num discurso se vocês decorarem não dá para fazer adaptação nenhuma, e pior, se tentarem fazer a adaptação, vão se perder, e pior ainda, só pedir a alguém para escrever o nosso discurso. Não funciona. Vou-vos dar aqui um exemplo.
Discurso de Santana Lopes: "Bem, sabemos que a imagem do país que mais importa ter no mundo da competição global em que vivemos é a da qualidade, mas a questão da segurança depois de tantos..Perdão, a obtenção deste reconhecimento de um país seguro, leva naturalmente tempo, e muitos e acertados esforços a este fim destinados. Ainda muito recentemente no enorme êxito de organização o Euro 2004 (...)”.
Bom, isto foi ainda pior, porque na véspera e no durante o dia anunciaram que quem tinha escrito o discurso foi o Manuel Dias Loureiro, ou fizeram gala em anunciar publicamente, não, não, o discurso vai ser uma coisa excepcional porque quem o escreveu foi o nosso companheiro Dias Loureiro. Pior a emenda do que o sorvete, não é. Quer dizer, não funciona, não funciona porque Santana Lopes não é um orador para ler um discurso, ninguém estava à espera de encontrar isto, e depois não funciona porque a linguagem de Manuel Dias Loureiro não é obviamente a linguagem de Santana Lopes. Portanto, tudo aquilo se via deslocado, para além das confusões todas de leitura. E depois voltando um bocadinho à história do shampoo, reparem nos óculos, não é. Coisa que não havia em Santana Lopes e no cabelo que parece que levou 30 anos em cima. Foi assim que ele se apresentou como Primeiro-Ministro, já não era o miúdo novo, mas um velho com dificuldades de leitura, com os óculos na ponta do nariz.
Sejam mais espertos.
Vídeo:"E é lamentável que o Partido Socialista, que sempre se pautou por uma atitude política correcta, tenha trocado o seu comportamento por uma atitude politiqueira, o Partido Socialista é demasiado essencial à nossa democracia para que possa agora trocar a ideologia pelo teatro”.
Um outro exemplo.
O que é que o Gonçalo fez? Basicamente, numa resposta a um ataque fictício, evitou os ataques pessoais e deu a volta à situação e atacou o cerne, o Partido Socialista em si. Não acusem nunca sem provas, insinuem, se vão insinuar alguma coisa é bom que tenham aquilo provado, e podem insinuar e até fazer o bluff de que não sabem para forçar o adversário a vir para a frente "Prove, prove, prove”, e vocês provam não é, então está aqui. A história dos 10 Euros, até dá para criar um engodo e representem a indignação.
Outro bom exemplo, espero eu, de ser mais esperto:
"Vossa Excelência de facto é um orador interessantíssimo, dir-se-ia que tem um discurso muito agradável, um discurso light, mas de tão light emagreceu excessivamente o conteúdo e não lhe descortinámos ponta de ideia”.
As pessoas não gostam de pessoas antipáticas, gostam de pessoas simpáticas e, sobretudo, gostam deste registo filho da mãe. Ainda por cima como vocês são novos, não podem fazer aquele número do "parece impossível, Sr. Deputado”, não. Não, vocês têm o feitio, têm a personalidade, têm a idade própria de serem filhos da mãe, educadinhos, aquela coisa de menino simpático, educado, mas que depois satiriza. Outro, 12º conselho não admitam nunca serem inferiorizados, a coisa melhor que vos podia acontecer era chamarem-vos preto, chamarem-vos miúdos, dizerem que vocês pensam assim porque são mulheres. Bom, isto é uma oportunidade de ouro, expor as coisas como elas são. A partir do momento em que alguém se atreve a dizer olha o não sei quê, um comentário sobre a cor, o preto, a mandar bocas. Bom, meus amigos é uma maravilha não é, porque dá para fazer imensas brincadeiras como "não sabia que o Partido de V. Exa. agora tinha contratado Deputados ao PNR”, para matar aquilo. Mas, sobretudo se vocês virem que dá, que há oportunidade entrem a matar, indignem-se, recorram à defesa da honra e vão pelo politicamente correcto.
"Deixe-me dizer que sou mais novo que o Sr. mas estou aqui com a mesma legitimidade, os meus votos, os votos que me elegeram são tão bons ou melhores do que os seus, e não admite que me discrimine em função da idade, porque nessa caso seria obrigado a dizer-lhe V. Exa. já prescreveu”.
Não admitam nunca, nunca admitir ser inferiorizados, vão lá é uma oportunidade ouro, porque depois toda a gente tem a tendência de se reunir à volta do politicamente correcto. A melhor coisa que vocês podem dizer é: o Sr. Deputado vem dizer isso só porque eu ser mulher, mas o Sr. nasceu, está na década de 60 ainda o Sr?”, fazer a indignação e dá para puxar inclusive os outros partidos todos atrás, toda a gente vai atrás do politicamente correcto, ninguém tem coragem de enfrentar o touro. Cuidado com as maldades.
Isto é um remake, nesta última campanha presidencial de uma cena ainda mais conhecida que vocês se devem recordar de um bolo natalício e tal, a verdade é que ninguém nunca se esqueceu do bolo natalício, e aquilo foi uma maldade, quer dizer continuarem-no a filmar enquanto ele comia o bolo foi uma maldade, e é uma maldade estarem permanentemente, nós vemos o Contra-informação, sempre que aparece o Presidente da República, aparece com migalhas de fora, quer dizer, quantos anos é que já passaram, dez, dez anos e continuam a falar sobre as migalhas. E nesta última campanha, apanharam este momento pronto, temos um momento especial. Outra maldade.
Nuno Graça – Já em 1996 Jerónimo de Sousa concorreu ao Palácio de Belém mas desistiu a favor de Jorge Sampaio que acabou por derrotar Cavaco Silva, são aliás dessa campanha estas imagens.
Camaradas, nós temos que ver isto outra vez, porque o jeito do camarada é uma coisa notável para a dança.
(Risos)
Mas vocês tenham a noção de que isto é uma maldade, porque o camarada estava ali num jantar com as camaradas e com os camaradas, um jantar, aquilo é gente da pesada, que deve ter metido vinho e não sei quê e depois foram para o bailarico e há um câmara que faz a maldade de apanhar a cena, o camarada continua a dançar. Mas tudo isto tinha sido há 10 anos, há 10 anos e isto foi para aquela campanha presidencial que o homem desistiu a meio, e de repente para anunciar a nova recandidatura, há um realizador da RTP que se lembra, não eu tenho umas imagens do Jerónimo de Sousa que são daqui…
Finalmente, o último conselho com que vos deixo tenham sempre, sempre a última palavra, é um exemplo de um diálogo que aconteceu na Assembleia da República com o nosso Mota Amaral, que era ele o Presidente da Assembleia da República, estava ele lá em cima, aquela pose majestática, Mota Amaral é uma pessoa que intimida qualquer parlamentar e do outro lado Carlos Carvalhas, e o Carlos Carvalhas tem a dizer o seguinte:
Carlos Carvalhas - Venho aqui dizer-vos esta coisa espantosa, entre as informações do Bush, as informações do Sr. Blair, essa avestruz, e as informações do ditador Saddam nós, nós..
Mota Amaral – Comparar o chefe de um governo de um país amigo e aliado com um animal, qualquer que ele seja, mesmo que seja de uma forma certamente metafórica.
Carlos Carvalhas - O Sr. Presidente não gostou da figura de retórica mas creia que eu não quis ofender o animal.
Tenham sempre, sempre a última palavra com isto vos deixo, muito obrigado.
(APLAUSOS)
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigado Rodrigo, vamos iniciar a fase das questões dos grupos. João Almeida do grupo cinzento.
João Almeida
Bom dia a todos, em primeiro lugar, gostaria de agradecer a sua presença, gostei muito da aula, ou da palestra que deu, infelizmente não tenho a camisa engomada, mas tenho mesmo que lhe fazer uma pergunta: quais devem ser as relações dos líderes políticos com os meios de comunicação social? E qual é a personagem para si, política, que tem melhor imagem e o dom da palavra?
Muito obrigado.
Dr.Pedro Rodrigues
Inês Cabrita grupo roxo
Inês Cabrita
Num país como Portugal com elevado valor de iletracia para um Membro da União Europeia, a comunicação social bem como o povo, tendem a preocupar-se mais com os erros e as calinadas dos políticos, e com o que uma figura política diz, em vez de cultivar o debate esclarecido e informado. Neste contexto, como é que um agente político pode transmitir argumentos fundados em racionalidade ao eleitorado em geral? E será que a comunicação directa dos blogues, que contorna a mediação de imprensa tradicional, é a melhor maneira de resolver este problema? Obrigado.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, primeiro vou responder à pergunta do João. Bom dia João. Que partido é que tem melhores relações com a imprensa? Por incrível que pareça a minha a resposta, eu diria talvez o Partido Popular, porque é claramente um partido sobrevalorizado na imprensa, eles têm muito mais espaço de imprensa, vocês podem fazer essas contas, têm muito mais espaço que, por exemplo, o Bloco de Esquerda que hoje em dia tem votações superiores. Não faz sentido que um partido tão pequeno continue a ter o mesmo peso, eles são, o arco eleitoral, de facto, alargou-se dos 4 para os 5, sendo que o PP é cada vez o mais pequeno deles todos.
Pior imprensa, por exemplo, tem o PC, que apesar de ser um clássico, um peso pesado ainda da nossa política tem má imprensa na prática, o que às vezes parece desmentir aquele princípio básico que nós temos como adquirido de que a esquerda tem, que os jornalistas são todos de esquerda ou que a imprensa é tendencialmente de esquerda.
Bom, que político é que tem a melhor imagem, ou o melhor parlapier? Eu gosto da expressão parlapier, parlapier diz tudo. Eu vou talvez pelo Portas. O Sócrates tem boa imagem de facto, o Sócrates tem muito boa imagem, é um tipo sexy, aqueles fatos Armani com 8 botões apertados até ao colarinho, aquilo é uma questão de gosto, eu não iria por aí, provavelmente, mas aquilo pega, é sexy. Mas, o Portas é um mestre, quer dizer, ele de facto consegue, ele de semana a semana consegue encarnar um personagem diferente, aquilo é uma coisa, aquilo é de uma habilidade monstruosa, o homem consegue fazer mais loops que um ginasta do Ginásio Clube Português, aquilo é uma coisa extraordinária.(Risos) Ele uns dias é o homem das feiras, noutros dias é o político conservador Ministro da Defesa, ora outros dias aparece com a camisa desbragada, tipo três botões até cá abaixo marialva, marialva liberal, mas liberal conservador, mas um conservador liberal, e ninguém sabe muito bem o que é que ele é. Mas a verdade é que vai continuando, portanto, eu diria talvez o Paulo Portas.
Inês, a Inês lamenta-se que a política seja aproveitada para fazer tristes espectáculos e que não há debate. Pois, que chatice não é. Pois é, mas é assim, sim, e a política é cada vez mais um show-off, e as pessoas agarram-se aos fait divers porque, sobretudo porque os políticos se portaram mal, os políticos são chatos, os políticos são muito chatos, a política é uma coisa muito chata. Vocês repararam como qualquer jantar de militância, vocês já devem ter vivido alguns, ou mesmo aqui estas conferências começam com "Sr. Presidente da Mesa, Srs. Conselheiros” a seguir a estrutura protocolar toda até ao secretário, à secretária, ao motorista e não sei quê, vai tudo não é, "Sr. Motorista muito prazer, não sei quê, estar aqui é uma honra”, e de repente são 10 minutos só de cumprimentos, são 10 minutos só de cumprimentos protocolares. Isto para pessoas que têm casa, ninguém tem paciência para isto, não têm, as pessoas não têm paciência para isto, isto não é debate. O debate interessante sim, e aí você tem razão é nos blogues, há farpas, há vivacidade, há farpas e há vivacidade sobretudo porque não há responsabilização, não há responsabilidade, nenhum de nós. Por exemplo, se você põe lá um peso pesado, um ministro a escrever ele faz um discurso formal, claro, tudo o resto pode dizer aquilo que lhe apetecer.
Portanto, não se queixe tanto, a culpa é nossa enquanto agentes políticos que todos somos, porque de facto é muito mais interessante a play station, é mais interessante a telenovela e o jogo de futebol e a política tem que concorre com eles todos e não concorre. Não concorre porque não é interessante e os políticos tornam-na cada vez mais chata.
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigado Rodrigo, João Reis do grupo rosa.
João Reis
Muito obrigado, desde já, achei que foi muito interessante e não o achei nada nervoso. Gostaria de dizer que o marketing político é um dos tópicos perfeitamente aceites pela comunidade científica, no interior da disciplina de marketing, tal como marketing de causas ou de instituições sem fins lucrativos, o social marketing. Porém, se isto é verdade ao nível técnico, na vida política europeia existe uma sistemática recusa da sua utilização, como se o facto de admitir o uso destas técnicas viesse retirar nobreza e pureza aos ideais da vida política e social. Concorda com esta afirmação? Obrigado.
Dr.Pedro Rodrigues
Mónica Santos Rosa do grupo verde.
Mónica Santos Rosa
Olá, obrigada, adorei mesmo a sua intervenção e gostava de lhe fazer uma pergunta. Para si quais são as vantagens e os inconvenientes de falar em palco andando de um lado para o outro? Obrigado.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom o João, em primeiro lugar, tudo isto já existia antes de ser marketing, antes de lhe chamarem marketing político, quer dizer, nada disto é novo, tudo aquilo que falei, aquilo que fizeram basicamente foi de dar o nome de buzz ao buzz, mas aquilo já existia, as pessoas já falavam, há boatos e rumores desde que o homem é homem, há sound bytes desde que a humanidade saiu das cavernas e começou a comunicar uns com os outros.
Portanto, o marketing político não inventou nada.
Ora, você tem muita razão, há um preconceito em se dizer que se está a trabalhar com uma agência de comunicação, ou em dizer que se aplica marketing político. Há um determinado preconceito e você disse bem, tira nobreza ao exercício da política, mas eu creio que isso mais cedo ou mais tarde vai acabar, porque as pessoas têm noção que são necessárias técnicas de comunicação. A questão é que as técnicas de comunicação são demasiado expostas, se você reparar, vocês todos conhecem nomes de agências de comunicação importantes e sabem quem trabalha com quem. Portanto, há donos de agências de comunicação que são mais famosos do que os políticos com quem trabalham, isto é a perversão completa do sistema. Um homem da comunicação não deve existir, não deve aparecer nas fotografias.
No outro dia vi uma cena, recomendo-vos os vídeos do Sapo. O Benfica, tinha acabado o Benfica-Copenhaga, eu gosto muito do Benfica, é sempre bom para exemplos, tinha acabado o Benfica-Copenhaga e estava o Rui Costa a ser entrevistado, estava o Rui Costa a ser entrevistado e atrás aparece um menino loirinho de fato e que passa, olha para a câmara, não é, tipo a ver se está tudo a correr bem, aparece outra vez passa não sei quê, entrevista ao Petit a mesma coisa o mesmo menino. Sabem o que ele faz? Assessor de comunicação. Isso é a perversão completa do sistema, quando os assessores de comunicação se tornam mais famosos do que as pessoas com quem trabalham. Bem sei que a notoriedade serve para eles venderem os seus serviços, mas é uma coisa que não se faz.
Portanto, eu acredito que tendencialmente isso irá desaparecer, essa necessidade de protagonismo irá desaparecer e voltaremos ao normal, que é trabalhar com o buzz como se fossem boatos e rumores do Idade Média, mais nada.
Mónica. A pergunta é muito engraçada, eu tenho um sistema. O andar ajuda-me a descomprimir o nervosismo, quando eu faço isto não é por gostar de andar, é descomprimir o nervosismo, eu quando pego na garrafa de água, bebo água pelo meio, descomprime o nervosismo, não é, estou a passar a minha tensão para o andar, tem vantagens que normalmente é essa, e tem outras, eu por exemplo acredito, e é um bocadinho também a ideia do Deputado Carlos Coelho que quanto mais elementos visuais em movimento vocês tiverem, mais atenção é captada. Ao contrário daquilo que a maior parte das pessoas teoriza que nada pode mexer que é para a pessoa focalizar, bom se nada mexer as pessoas adormecem, se tiver um filme a passar, se eu estiver a passar pelo meio, se tiver a andar pelo meio enquanto falo, a vossa atenção é obrigada a ser dispersada sim, mas a atenção está cá toda, eu acredito que maior parte de vocês tenham ouvido ou não tenham tirado os olhos de cima da apresentação, ou do vídeo, ou de eu a andar, ou de eu a beber a garrafa de água, ou de fazer comentários laterais ao vídeo. E isto capta a atenção de uma maneira que não existe, é uma coisa muito americana, eu gosto, tem estas desvantagens, por exemplo, técnicas, de se ter que pegar no microfone, mas é só vantagens, acredite.
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigada Rodrigo, Albina Silva do grupo amarelo.
Albina Silva
Olá muito bom dia, foi de facto um prazer ouvi-lo, percebemos que aquele jeitinho à "filho da mãe” muito educado, funciona na perfeição. Então passaremos à questão, e então nós aqui o grupo amarelo acha que de facto a comunicação no exercício político é essencial, segundo o nosso estimado Reitor, Carlos Coelho, não concebemos a política sem a apresentação de ideias e projectos, e sem animar, seduzir e convencer, eu acrescento muitas vezes até manipular. Isto conduz ao aparecimento do que se pode chamar políticos de imagem, mas não será efémero o sucesso destes? Não é verdade que os eleitores regressam sempre aos políticos de conteúdo? Muito obrigado.
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigado Albina, Maria Pereira de Almeida do grupo encarnado.
Maria Pereira de Almeida
Bom dia, agradeço desde já em nome do grupo encarnado a excelente apresentação que nos proporcionou. A questão é a seguinte: existe em Portugal uma taxa significativa de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas que sabem ler mas não percebem o que lêem, pessoas que reconhecem as palavras que ouvem mas não percebem a ideia que é transmitida. A nossa pergunta é o seguinte: para fazer chegar uma mensagem a estas pessoas é preciso simplificar muito o discurso, mas essa simplificação excessiva do discurso tem duas consequências negativas. A primeira, é que essa simplificação excessiva pode dar origem a interpretações não desejáveis, e a segunda, mais grave, é que não estimula essas pessoas a deixarem de ser os analfabetos funcionais que referimos. Gostávamos de saber o que é que pensa sobre o assunto e se há alguma solução para esta verdade inconveniente.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Albina muito obrigado, especialmente pela parte do insulto de chamar-me filho da mãe acho que foi inacreditável. (Risos) Obrigado pela boa bucha, grande sound byte, mas foi uma bucha e um sound byte no início, uma boa maneira de começar uma intervenção.
Bom, outra vez a história do conteúdo verso formato, será que não voltamos aos políticos do conteúdo, e se os políticos da imagem se gastam. Bom, aquilo que eu estou a dizer é diferente, eu não estou a dizer, aquilo que me pediram para vir cá fazer, é falar sobre embalagens, pacotes, o que está lá dentro é convosco, aquilo que vos estou a dizer é que há maneiras engraçadas de passar mensagens importantes, e sobretudo há maneiras funcionais de passar mensagens importantes. Porque vocês podem ser o melhor professor do mundo, os melhores professores do mundo, mas se forem uma seca a dar as aulas, aquilo é assassínio, é uma mortandade, ninguém vai querer aprender, não é?
Portanto, aquilo que eu vos estou a dizer é isto: dá para vender a mesma água só que com umas cores mais engraçadas, e assim vende mais. Está a perceber? Agora, se a água leva lá dentro lixívia, isso é um problema seu. Se levar lixívia você mata a clientela, se mata a clientela perde os votos. Parece-me que tem lógica, não é? Tão simples quanto isto, claríssimo!
Portanto, se as pessoas voltam sempre aos políticos de conteúdo, há bocado com o exemplo do Cameron, de facto há esta rotatividade, John Major técnico, Tony Blair parlapier, e a seguir talvez Gordon Brown, técnico, outra vez, são modas, são modas. Mas uma coisa lhe garanto, se o Gordon Brown for mesmo muito chato ninguém vota nele. Porque o mercado é concorrencial e a concorrência não são os outros políticos, você não está a lutar para ter mais atenção que os outros políticos, você está só a lutar para a política concorrer ao mesmo nível que as telenovelas, porque as telenovelas têm mais audiência que um debate no parlamento, não se esqueça disso. É um facto, portanto aquilo é chato, o debate no parlamento é chato, e em vez de mudarem as regras ou de articularem, não, aquilo entra naquele ram-ram. Os debates em Inglaterra em são mais engraçados.
Vamos aqui à Maria, vou-lhe pôr a questão ao contrário em relação aos analfabetos funcionais. Nomeadamente, uma pessoa como você, você tem a idade que tem, é nova, é gira, é bem falante, não se desmanchou quando eu estava a tentar fazer com que você se desmanchasse, não se riu, aguentou – se ali, etc. Pergunto-lhe, vamos fazer o exercício ao contrário, bom, há analfabetos funcionais é verdade, por isso é que os boletins de voto continuam a ter o logótipo dos partidos, e cada vez que se mexe num logótipo há imensos votos que se perdem, principalmente em comunidades rurais, aposto como vocês não sabiam isso, é inacreditável, por isso é que os partidos põem sempre, mesmo em coligação não põem o logótipo da coligação, põem cada um dos logótipos porque as pessoas só reconhecem pelo símbolo, é assustador.
Agora a pergunta que você deve colocar a si própria é, se vale a pena estar a comunicar com eles, você vai deturpar de tal maneira a sua imagem, vai perder, há princípios de economia que é tempo, o tempo é um recurso finito, portanto você vai gastar ali uma série de tempo a tentar convencer pessoas a votarem em si, que provavelmente o mesmo tempo empregue noutro mercado teria outra rentabilidade. Portanto, você é nova, fale com pessoas que a compreendam e que percebam o seu discurso. Até porque não a imagino a si a percorrer as aldeias, a falar com senhores com quem você não tem capacidade de comunicação. Até porque depois há generation gap enorme, enorme, entre esses analfabetos funcionais que existem, que é uma franja, mas existem, e depois aquilo que você sabe, e portanto você não consegue lá chegar e se conseguir é com muito esforço, e eles não conseguem chegar até si. Portanto pergunte-se a si própria se vale a pena.
Dr.Pedro Rodrigues
Joana Simões, grupo azul.
Joana Simões
Muito bom dia, a pergunta que eu tenho não tem propriamente a ver com aquilo que estamos a tratar. Nos dias de hoje em que os povos se relacionam tanto informal como formalmente, eu gostaria de fazer uma pergunta sobre um assunto que eu não domino, protocolo. Na última visita do Primeiro-Ministro inglês a Portugal ocorreu um incidente no momento do cumprimento inicial dirigido pelo Primeio-Ministro português. Assim não será o protocolo e algumas das regras do mesmo, ridículas ou substancialmente exageradas, no relacionamento entre pessoas com cargos políticos, representantes de um povo informal, natural, que pretende, espera rever-se nesses mesmos representantes? Ou será que o protocolo deve continuar a ser essencial na política e nas relações dos representantes do povo, se sim, porquê?
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigada Joana, Susana Correia dos Santos do grupo bege.
Susana Correia Santos
Bom dia a todos, realmente este momento foi muito importante, contudo, gostava de fazer uma pequena nota é que devia ser tão fácil de fazer, da mesma forma que foi fácil ouvi-lo e ficar muito envolvido. A minha equipa bege gostaria de perguntar se considera que os momentos em que os vários políticos se afastam, especialmente em momentos mais importantes sobre a vida, acha que esses momentos de afastamento político são essenciais para que seja feita uma nova imagem política? E se acha ainda que é possível nós conseguirmos fazer com que a capacidade de memória do povo, seja assim de alguma forma manipulada? Obrigada.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Joana o protocolo, o protocolo é uma coisa engraçada, porque nós às vezes olhamos para os efeitos e não olhamos bem para as causas. O protocolo tem uma utilidade que é medir as relações de poder entre as instituições. No caso, o protocolo do MNE rege as relações de poder entre as instituições, diz quem é que é mais importante do que o outro. Isto é fundamental para a política, porque quer dizer quem é que manda em quem, estabelece uma cadeia de comando. E, portanto, todos aqueles salamaleques que nós vemos são instruções de comando, nós sabemos que o General fica abaixo do Chefe de Estado Supremo das Forças Armadas, que fica abaixo de um Deputado, portanto que um Deputado pode dar ordens a um general e que o General não pode dar ordens a um Deputado.
Isto é fundamental e faz parte, o protocolo é um nome que nós demos a esta codificação, mas está ali muita doutrina. Recentemente discutiu-se o papel dos bispos no protocolo, o papel da Igreja Católica no protocolo, isto é uma discussão fundamental, porque é uma discussão sobre a laicidade do Estado, sobre as relações do Estado com o maior IPSS que existe do mundo.
Estas questiúnculas acabam por ter a maior importância, estamos a falar de Estados e de instituições.
Protocolo, por exemplo, dentro de um partido, bom, eu acho, o Sr. presidente da mesa, Srs. congressistas, sra. mi…., Sr. presidente da secção, Sr. presidente do núcleo de sta. Isabel, Sr. presidente do não sei quê….., bom, isso é ridículo, isso é ridículo.
E, até você repare, mesmo voltando outra vez às relações entre os órgãos e instituições que as melhores photo opportunities são, normalmente, momentos não protocolares, tipo aquela viagenzinha que o Bush fez com o Putin no barco para irem pescar os dois. Portanto, a comunicação em si ou não precisa de protocolo, dispensa protocolo, aliás, o protocolo devia ser abolido na comunicação com as massas, com o povo, com o eleitorado. Nas relações entre os Estados é fundamental, fundamental.
A outra, Susana. Bom, Susana, agradeço-lhe o mimo porque estou farto de ser insultado já me chamaram filho da mãe e tudo, (Risos) portanto o seu mimo soube-me que nem ginjas. Os afastamentos, o Herman José tinha uma teoria de que precisava de sair durante um ano, precisava de 3 em 3 anos precisava de sair um ano da televisão para não queimar a imagem, e a verdade é que houve uma série de tempo em que ele não fez, que tinha desse hábito e queimou a imagem. Portanto, a exposição queima, claro que queima. E é possível voltar uma pessoa diferente, não muito diferente não se esqueça dos preconceitos, porque as pessoas têm sempre.
O Paulo Portas, quer dizer, este então nem sequer foi travessia no deserto, foi assim ali um passeio na Costa da Caparica, foi mais rápido, e depois voltou uma pessoa diferente e não pega, não pega, ele vai ter que dar outra cambalhota e descobrir uma maneira de articular bem lá o conservadorismo marialva da camisa desapertada até ao 4º botão, eu também não posso falar muito, com o liberalismo para os amigos do Compromisso Portugal, porque aquilo não cola bem, não cola bem.
Portanto, pensar que sim, cuidado com o excesso de exposição mediática, lá isso o Santana Lopes é um caso flagrante de como a exposição mediática pode matar, o afastamento compensa e depois o regresso, uma pessoa diferente resulta se for assim, os ciclos políticos estão cada vez mais curtos, portanto eu diria 1 ano, 2 anos. Ninguém se lembra o que é que a Maria de Belém fez enquanto era Ministra da Saúde, porque se as pessoas se lembrassem pregavam-lhe rasteiras na rua; a Edite Estrela, não é, a Edite Estrela ainda por aí, vocês têm aquele caso extraordinário, isto a propósito de ciclos políticos cada vez mais curtos; o Diogo Morgado, sabem quem é aquele actor que faz "A Vingança”, o tipo foi apanhado a plagiar uma peça de teatro, eu se fosse ele ia para o Brasil e nunca mais voltava da selva amazónica, enterrava-me lá, não teria coragem. Seis meses depois já cá estava a representar outra vez.
Isto é extraordinário, portanto os peixinhos têm aquela memória curta, criam preconceitos mas com um bocadinho de habilidade conseguimos dar-lhe a volta.
Dr.Pedro Rodrigues
Muito obrigada Rodrigo, acabámos a fase das perguntas dos grupos vamos entrar nas perguntas livres, eu peço-vos desculpa, não é nenhuma discriminação ao grupo laranja como calculam, e vou dar a palavra Tânia Marinho do grupo castanho e depois o Manuel Monterroso do grupo laranja e aí sim terminamos.
Tânia Marinho
Bom, muito bom dia a todos. Dr. Rodrigo Moita Deus, o grupo castanho gostaria de saber até que ponto os lobbies ou grupos de pressão podem condicionar a actuação e as decisões políticas, e o que pensa da eventual obrigatoriedade de uma declaração pública de interesses destes grupos de pressão à semelhança do que acontece nos Estados Unidos, isto porque como nós sabemos, a imagem do sistema influência decisivamente a opinião que os eleitores têm sobre a generalidade dos políticos. Muito obrigado.
Dr.Pedro Rodrigues
Manuel Monterroso grupo laranja.
Manuel Monterroso
Antes de mais muitos parabéns pela exposição magnífica e pela disposição que aqui nos trouxe. Eu vou fazer duas perguntas muito breves. Qual a melhor forma de combater um discurso ou ataque demagogo ou filho da mãe, feito por parte do opositor político? Uma vez que a maioria da nossa imprensa é socialista, como é que um social-democrata deve falar claro para conseguir transmitir uma mensagem sem esta ser descontextualizada ou deturpada pela comunicação social? Obrigada.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Tânia, os lobbies, sabe de onde é que vem a expressão lobby? É que em Washington os senadores chegavam dos vários Estados e tinham sempre petições, havia sempre alguém que queria apresentar uma petição ou por causa do rio que passava em cima da terra, ou por causa duma autorização legal para poder vender armas de fogo, e eles reuniam no lobby do hotel, porque não havia nenhum espaço preparado no Congresso, reuniam-se no lobby do hotel onde iam dormir, porque eles não eram de lá, portanto faziam a viagem e diziam está bem então reunimo-nos às 4 da tarde no lobby do hotel.
Bom, o que é engraçado é que o princípio continua a ser o mesmo, imagine que eu sou da Associação Nacional de Farmácias, eu quero legitimamente impedir que o Governo venda medicamentos em hipermercados porque aquilo faz-me mal ao negócio, portanto eu tenho que ter o direito de intervir, o lobby não é mais do que isso. Depois, há uma série de barreiras e a ANF tem o direito de intervir nessa disputa, tal como os hipermercados também têm, portanto são dois lobbies já. A questão é quando as regras de decência são quebradas, a questão é quando começa a haver dinheiro a circular, em bom rigor, é quando começa a haver subornos.
Porque tudo o resto é uma complicação, há aquela expressão extraordinária jurídica "tráfico de influências”. Bom, tráfico de influências, eu estou sempre a fazer tráfico de influências, devo ser um criminoso, mas como é que uma pessoa mede o que é que é legal e o que não é legal, onde é que está a ética? Eu querer vender a minha ideia, porque acredito que ela é a melhor para o país ou é melhor para a pessoa. Porque eu quero vender determinada pessoa para determinado cargo é uma coisa ilegal? Não. Portanto, você tem razão, sim, se calhar mais vale fazer a coisa às claras. Porque nós somos muito hipócritas, somos hipócritas e somos católicos, portanto logo ali somos hipócritas. É uma questão religiosa, a sério, todo o católico é hipócrita e nós temos uma cultura muito católica portanto somos muito hipócritas. Somos tão hipócritas que dizemos, não pode haver lobbies, mas eles existem, existem porque é a natureza humana, não pode haver lobbies e a imprensa tem que ser isenta. O que é um disparate! A isenção da imprensa é uma coisa surreal, mais vale acreditar de facto na sociedade socialista, quer dizer, na utopia socialista, porque a isenção da imprensa é uma coisa totalmente disparatada não tem nexo nenhum.
Isto para lhe dizer, que provavelmente eu estou de acordo, eu liberalizava ou abria, e mostrava tudo, se calhar também fazia a mesma coisa em relação ao financiamento dos partidos.
Manuel. Você colocou-me a questão outra vez da comunicação social. A comunicação social é geralmente de esquerda, si, geralmente é tendencialmente de esquerda, a maior parte dos jornalistas têm sempre um cunho de esquerda. Mas o problema pegando naquilo que estava a dizer há bocadinho, o problema não é se os jornalistas são de direita ou de esquerda, o problema é esta regra idiota da isenção a que eles são obrigados. Porque a isenção? É um critério.
Bom, vamos lembra-nos de alguns jornalistas famosos cá em Portugal: Ruben de Carvalho, jornalista do Diário de Notícias; Marcelo Rebelo de Sousa, outro homem muito isento; Dr. Rodrigo Moita de Deus, tive que juntar o meu nome, eu fui jornalista, acham que eu sou uma pessoa isenta? Ninguém consegue; José Saramago era jornalista, acham-no isento? Portanto, há aqui uma situação de hipocrisia que nos impede de assumir as nossas posições e depois dá para fazer aquela guerrinha subversiva, aquelas pequenas maldades que não são feitas na comunicação social. É por causa desta regra idiota, porque se eu souber que o jornal é de direita vou logo, posso gostar posso não gostar, se eu souber que o jornal é de esquerda é PS, mais próximo do PS, se for assumido. Em Inglaterra, os jornais em vésperas de eleições anunciam qual é o seu candidato. Qual é o mal? A única coisa que tem que ser isento e rigoroso é a Lusa serve para fazer textos de 3 linhas, eles que não façam textos maiores do que isso, porque a informação está lá. Ainda por cima, hoje em dia, não faz sentido que seja de outra maneira, vocês têm as notícias imediatamente na Internet, qualquer agência noticiosa vos dá isso, porque a notícia, o facto em si está ali, duas linhas, tipo, aconteceu isto a determinada hora, ponto. Tudo o resto, tudo o resto é livre, deixem-nos ser livres, porque o jogo de hipocrisia não compensa.
Mas lá está, estamos muito preocupados, sempre obcecados com a comunicação social e quando lá chegamos fazemos pior ainda, só que mais trapalhão. Porque quer dizer, o PS manipula a comunicação social, pois manipula claro que manipula, claro, e a PT não vai comprar agora, também não tentou fazer aqueles negócios todos, há assim uns jogos estranhos que nós não percebemos. A TV Cabo nas mãos da Caixa Geral de Depósitos, o Dr. Armando Vara, quer dizer TV Cabo, a SIC Notícias, a SIC Notícias e os outros 40 canais. Quem é que decide isso? Vai ficar nas mãos do Armando Vara? E ninguém dá por isso? Ninguém dá por isso? Ninguém reclama? Mas nós depois quando lá chegamos em vez de tirarmos estes mecanismos, em vez de obrigarmos a resolver a situação do acesso ao cabo, não, fazemos pior. Basta recordar, que tivemos um Primeiro-Ministro que convidou uma senhora à residência oficial para ser directora do DN, o DN que estava nas mãos de uma empresa supostamente privada. Portanto, mais vale acabar com a hipocrisia e para resolver o problema imediato de como passar este bloqueio, meus amigos, blogues, internet, sms, conversa de café, porque isto sempre foi assim. Portanto, só vamos lá se voltarmos um bocadinho à base, que é o contacto directo com as pessoas, passar por cima, ignorem não vale a pena, ou então façam o vosso próprio jornal, é legal, sabiam?
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigado Rodrigo, agora sim acabámos as questões dos grupos. Vamos iniciar a fase das perguntas livres, já tenho aqui algumas inscrições. Dou a palavra à Paula Nunes da Silva.
Paula Nunes da Silva
Olá, Rodrigo, a mim pode-me tratar por Paula ou Paulinha como preferir, (Risos) a nível dos conselhos de imagem os seus exemplos foram só sobre homens, barba feita, gravatinha e tal, e tal, queria que desse a nós mulheres dois exemplos, se conseguir.
João:- Dr. Rodrigo, queria-lhe fazer duas perguntas muito concretas falou há bocado no caso da religião, eu queria-lhe perguntar que vantagens e desvantagens traz, o facto de ser um homem religioso, e eu aponto o caso de Guterres um paradigma, porque na altura a questão entre a religiosidade dele e o facto de ser de esquerda, a tal contradição entre uma modernidade que se desejava e talvez alguma, vá lá algum conservadorismo pelo facto de ser religioso, bastante religioso até, em que medida é que isso traz vantagens e desvantagens? E outra é, há ou não má publicidade? Má publicidade, normalmente diz-se que nunca há má publicidade o que há é publicidade. Na política é assim?
Dr.Pedro Rodrigues
Obrigado João, fazemos blocos de 3 questões para tentar dar oportunidade a mais gente, portanto dava agora a palavra ao Carlos Carvalho.
Carlos Carvalho
Muito bom dia a todos. Rodrigo, agradeço primeiro na tua pessoa o fantástico manual com que ficamos servidos hoje e na pessoa do Reitor Carlos Coelho que também já vi que..
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Não, não é mesmo do Carlos Coelho, eu só fiz uns aditamentos, há aí uns erros ortográficos que são meus, de facto, tudo o resto é do Deputado Carlos Coelho.
Carlos Carvalho
Então a minha desculpa pelo lapso, agradeço a quem direito, Sr. Reitor. O manual parece-me que é das mais valias que vamos levar desta universidade.
Rodrigo, o que aconteceu comigo e vou aproveitar esta parte das perguntas mais pessoais foi que, nas autárquicas de 2005, tive que ajudar a combater um autêntico mito da comunicação, Avelino Ferreira Torres. O grande erro dele, na minha opinião, foi ter começado demasiado cedo, o que acabou por o desgastar. Mas qual é a melhor forma de combater alguém que pela palhaçada, digamos assim, pela arrogância ou pela própria brutalidade consegue entrar em tudo o que é comunicação social, consegue destaque em tudo o que é comunicação social, e consegue, principalmente, pôr as pessoas talvez com acesso a uma menor instrução a dizer: bem, o que é preciso realmente é dar uns pontapés nas cadeiras? Obrigado.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, Paulinha, (Risos) vou pôr a outra voz, Paulinha, assim que entrei aqui, olhei para a audiência feminina e disse: esta gente não precisa de conselhos meus, caramba! Nem percebo esse seu comentário, caramba!
O que não é totalmente inverdade até porque, normalmente, as mulheres têm muito mais cuidado que os homens, muito mais cuidado que os homens. Os homens são muito mais trapalhões, mesmo assim em casos extremos, qualquer mulher tende sempre a arranjar-se, tem que ser. Não tem que ser, vocês é que sabem disso, bem sei que escrevi um livro que vendeu imenso à conta disso, mas tem que ser, vocês têm que se arranjar. Portanto, fica feita a explicação, vocês não precisam e acredito que apesar de ter algum gosto para mulher, não para mim obviamente, você não queria os meus conselhos.
João, a religião. Bom, é um bocado um paradoxo, mas num país onde supostamente 90% das pessoas são católicos, não são bem católicos porque supostamente para se ser católico é preciso praticar, portanto reduzimos a coisa para 3%, que a religião tenha assim tanto peso. Tem peso, tem um peso cultural, sobretudo. A religião forma sociedades, ou seja, como você é hoje em dia, a maneira como você pensa, a maneira como você se comporta em sociedade, a forma como a sociedade se comporta é uma coisa religiosa, eu receio que isto lhe pode parecer um bocadinho escandaloso. É religioso, porque foi a religião que nos moldou, as coisas em que nós acreditamos: tipo, nós não podemos dormir com a nossa irmã, uma regra social básica é religião. É religião e depois isso tem um princípio que é científico, que é se nós dormimos com a nossa irmã nascem pessoas com 3 cabeças, que é um bocado desagradável, a religião aproveitou para explicar que isso é pecado, como não sabia explicar porque é que nasciam com 3 cabeças disse: é pecado, é feio.
Mas a verdade é que a maior parte das regras sociais que existem são inevitavelmente, por isso é que se diz, que temos uma cultura judaico-cristã, eu vou mais longe ainda, nós temos uma cultura completamente católica no bom e no mau. Nós católicos, temos uma vantagem enorme, que é o seguinte: eu parece que vou todos os domingos à missa, não é bem assim, mas nós os católicos temos uma vantagem enorme que é, podemos fazer aquilo que fizermos e à última da hora extrema-unção, está perdoado. O que nos dá para sermos hipócritas, porque é sempre aquela coisa: é feio, não devia fazer, mas eu depois resolvo. A extrema-unção depende do arrependimento, mas se eu estou deitado no leito a poucos segundos de encontrar Deus, bem arrependo-me de tudo e mais alguma coisa mesmo daquilo que não fiz, especialmente daquilo que não fiz, portanto a coisa resulta sempre.
Os protestantes não têm isso. Os protestantes têm uma coisa pior que é, vocês têm que trabalhar para se salvarem, por isso é que eles são loucos por trabalho, por isso é que eles trabalham tanto, por isso é que são tão ricos, por isso é que nós católicos somos tão pobres. A diferença não é só no tempo, a diferença é básica, um dinamarquês tem que trabalhar para se salvar, para salvar a alma, e pior ainda, não tem extrema-unção, portanto não há aquela coisa de à última da hora resolvo.
Portanto isto tudo condiciona. O homem vai para a escola tem que tirar boas notas, depois vai trabalhar para uma fábrica e depois vai ser muito rico, muito próspero, e nã, nã, nã, pronto protestantes. Todos os países protestantes são ricos, todos os países católicos são pobres. É um questão de esperarmos que a fruta caia da árvore para comermos qualquer coisa, basicamente é isto.
Isto tudo para dizer: sim, a religião tem importância nesse sentido cultural. Um político dizer que é católico pode pegar bem, depende da (...)
(Um minuto inaudível)
(...) o Marcelo Rebelo de Sousa é muito católico e não tem pejo nenhum em o afirmar, e resulta bem, as pessoas gostam disso. Mas vocês têm o caso contrário, quer dizer, o Mário Soares diz que odeia, abomina a Igreja, é laico, ateu.
Portanto, parece que não faz muito sentido, é uma questão de sermos verdadeiros com as pessoas, verdadeiros com as pessoas, honestos e a coisa normalmente resulta se formos honestos.
Vamos ao Carlos, bom enfrentar Avelino Ferreira Torres pelo menos é engraçado é, quer dizer, deve ter sido one life time experience. E ele bateu-vos ou não? Não.
Bom, outra vez a comunicação social, o homem aparece, faz, acontece, etc., aparece imensas vezes, ele ganhou as eleições, eu nem me lembro?
Carlos Carvalho
Ele começou demasiado cedo e deu tempo para se desgastar, a verdade é que quando ele começou a aparecer mesmo com a história das cadeiras e as maiores polémicas, a verdade é que ele que sondagens davam-lhe 70%.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, está bem, 70% normalmente dá-se, uma pessoa que tem 70% é de facto por excesso de notoriedade, não é. Mas a verdade é que vocês conseguiram dar a volta à situação, quer dizer, o homem queimou-se a si próprio. Eu percebo que para quem está a fazer uma campanha seja um bocado desmoralizador, eu faço uma iniciativa não me aparece televisão nenhuma, o homem diz mais uma bacorada lá estão os 3 canais. Eu percebo que isso deve ser uma coisa chatíssima.
Mas volto então à apresentação: criem vocês os números, arranjem um número, não façam a coisa tradicional, arranjem um número. Sem a história do camelo da margem sul aquilo tinha morrido. Mais 24h e tinha acabado. Mas com o número, pumba, lá está. É uma questão de criatividade, temos que ser criativos, inovadores e pensar bem, as vezes as televisões vêm não porque nós as chamámos mas porque têm que vir, eles têm que vir atrás de nós, não somos nós que temos que ir atrás deles, nós não temos que ser Avelinos Ferreira Torres, não temos que ir ao Big Brother, não é preciso. Vamos fazer coisa ao contrário, obrigá-los a vir atrás de nós, e é possível, é possível.
Carlos Carvalho
Ó Dr. desculpe importa-se de responder à minha outra questão se faz favor, à publicidade. Muito obrigado.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Peço desculpa. Há publicidade má, claro que há publicidade má, aquela frase da Marlyn Monroe. Há dois conceitos que eu vos falei na apresentação que é: um é notoriedade, uma pessoa ser muito notória como era o Avelino Ferreira Torres quando foi para eleições, é em princípio uma vantagem do que alguém que não tem notoriedade. Por outro lado, quem não tem notoriedade, as pessoas não têm preconceitos sobre ela. Com Avelino Ferreira Torres tinham preconceitos. Portanto, se eu apanhasse mais três ou quatro vídeos dele a chutar cadeiras, punha aquilo no you tube, aquilo fazia um estrago monumental, aquilo tinha que ser, que alguém com tanta notoriedade tanta exposição corre alguns riscos que é de criar preconceitos, portanto era bater naquilo.
Publicidade má há, existe sim senhor..
Carlos Carvalho
E Fátima Felgueiras Dr., desculpe a interrupção, Fátima Felgueiras é o exemplo contrário, não?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Como assim?
Carlos Carvalho
Felgueiras teve toda a má publicidade do mundo e mesmo assim ganhou a Câmara.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bom, mas ela trabalha, ela trabalha. Eu não tenho nenhuma dúvida, de que a Fátima Felgueiras deve saber o nome de metade do eleitorado de cor, metade ou mais de metade. E depois há aquelas todas outras ajudas, dessa metade, metade está a trabalhar na Câmara, portanto, assim mais ou menos, não é que nós façamos a coisa de maneira muito diferente. Os partidos são assim, especialmente em pequenas localidades ou cidades de menor dimensão, mas ela trabalha, ela leva aquilo a sério, ela trabalha ali 24 horas por dia que nem uma moura. Portanto, também não é para vir um tipo lá de fora, chegar tipo eu sou o campeão aqui em Felgueiras, eu mando e acontece e tal, sou muito conhecido e muito importante. Não dá porque ela conhece as pessoas, e isso é trabalho, isso é trabalho. Coisa que o Avelino Ferreira Torres não faz, não trabalha.
Dep. Carlos Coelho
Portanto chegámos ao fim deste nosso painel da manhã, queria sublinhar uma coisa que o dr. Rodrigo Moita Deus disse há pouco, quando disse: "bem, eu estou-vos a falar da forma o conteúdo é da vossa responsabilidade”.
E gostaria de frisar isso para sublinhar que a utilidade desta sessão, tem a ver com a descodificação da forma porque, nós temos que perceber, entender, decifrar e combater as formas de manipulação. Mas ninguém ganha credibilidade na política só com a forma. Vocês não tenham dúvidas relativamente a isso, quer dizer, nós podemos ser os melhores na forma, se não tivermos substância isso nada vale. De nada vale perante a nossa consciência se tivermos auto-crítica suficiente, mas de nada vale para fora, porque aquilo que é mais difícil de conseguir na política é a credibilidade.
E, depois, temos que perceber que cada instrumento de comunicação merece a sua linguagem, que nós temos de entender e com os quais temos que nos saber relacionar. O Dr. Rodrigo Moita Deus explicou isso bem, quando deu vários exemplos. Intervir no blogue não é a mesma coisa que falar numa sessão pública, falar numa sessão pública não é a mesma coisa que escrever num jornal, etc.
A comunicação social é um instrumento de comunicação que muitas vezes medeia a nossa comunicação com os eleitores, e há da parte de nós, de quem faz política, muito a sensação reiterada de que somos tratados injustamente, porque a comunicação social tem a sua própria lógica, e a lógica da comunicação social não é a nossa lógica. Uma comunicação eficaz, sobre esse ponto de vista, é quando nós conseguimos juntar as duas lógicas, quando percebemos a lógica do lado de lá e somos capaz de passar as nossas mensagens. Isso é mais importante do que tentarmos entrincheirar, vê-los como inimigos necessariamente, quase numa lógica conflitual com a nossa própria mensagem.
E dito isto agradeço, em nosso nome, a excelente colaboração do Dr. Rodrigo Moita Deus, o Pedro Rodrigues e eu vamos acompanhá-lo à saída como de costume, o Duarte Marques e a Zita vêm para aqui, e Rodrigo muito obrigado.